Palavras de Jorge Forbes, psicanalista, sobre a morte de Michael Jackson.
A psicanálise serve, a meu ver, para lembrar que pessoas
como o Michael Jackson, que são a arte encarnada... São eles que nos interpretam.
São eles que nos comovem, são eles que fazem com que a gente se pergunte, são eles
que mostram, de certa forma, uma pequenez do nosso dia a dia, são eles que
mostram que o mundo pode ser diferente, que a gente pode andar diferente.
Acho que todos nós temos um interrogante em nós, sabendo que
sempre existe um descompasso entre o que a gente sente e o que a gente diz. A
gente vive desse descompasso.
E que responde a sua pergunta sobre o porquê
essa comoção mundial. É porque ele não é de ninguém. E, como ele não é de ninguém, cada um de nós pode ver o nosso Michael Jackson.
Eu acho que o que
faz a obra de arte ser imortal, o que faz um livro ser imortal, um quadro ser
imortal, um artista ser imortal, é exatamente o fato de ele escapar sempre a
todas as tentativas nossas cognoscíveis de aprendê-lo. Nós não conseguimos
fazer isso com a Mona Lisa, nós não conseguimos fazer isso com o Moisés de Michelangelo. Nem o autor dele consegue. Eu acho que o
Michael Jackson é isso. E tem uma coisa muito interessante no Michael Jackson.
Ele morre no momento que ele ia retomar, e ele não retomou. Então cada um de
nós vai ficar com a ideia do show que ele não fez. Ele morreu no momento da
esperança, o que, evidentemente, contribui muitíssimo para um envolvimento de
todos nós, porque todos nós sonhamos juntos o que seria esse show em Londres.
Todo talento é uma coisa que põe você diferente das pessoas,
diferente do grupo. Agora, quando alguém tem um talento claro, que o define na
sua diversidade. Eu tomaria pela essência da palavra, pela diversidade, pelo
diferente, pelo não costumeiro, pelo não habitual que ele era. Então eu acho que o artista mostra a
necessidade, a cada um de nós, de saber suportar essa singularidade. E isso não
é fácil.
Michael Jackson teve problemas? Nós sabemos. O Michael
Jackson teve sofrimento? Nós sabemos. O Michael Jackson é uma pessoa esquisita
a todas nós? Nós sabemos. Isso explica o
talento, a genialidade de um homem que revolucionou a música? Nós não sabemos. Quer dizer, nós não temos
a essência de ir lá dizer: “Com isso daqui eu faço outro Michael Jackson”. Eu não
faço. O mundo hoje está de luto. Nós perdemos a maior expressão da música
popular no século, uma pessoa que revolucionou. Nós ficamos de luto porque nós
perdemos, mas nós não sabemos exatamente o que nós perdemos. Eu acho que nesse
momento, você tem duas opções na vida, para dizer grosseiramente: Ou você consegue se responsabilizar pela
sua singularidade, ou você vira genérico. Se você puder suportar isso, e suportar isso
quer dizer suportar o desentendimento, suportar o mal entendido, suportar o
silêncio, suportar a angústia, porque não tem padrão, então a angústia vai
aumentando, suportar essa singularidade, aí nesse momento a sua possibilidade
de se manter nesse ponto é muito maior.
Para encerrar, brevemente, duas palavras, uma sobre o herói
e uma sobre o Michael Jackson. Sobre o herói, acho que nós estamos em um
momento na globalização, nós temos uma outra relação com os heróis, os heróis sempre
existirão, sempre existiram aquelas pessoas que nos tocam de alguma forma. Será
aquele que nos interrogará, que nos fascinará, que nos equivocará, que nos
mostrará algo diferente e diverso, como o Michael Jackson. E a última palavra, eu
acho, sobre o dia de hoje, é “Que pena...”.
Eu, Álison