quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Não interpreta Michael Jackson

Palavras de Jorge Forbes, psicanalista, sobre a morte de Michael Jackson.

A psicanálise serve, a meu ver, para lembrar que pessoas como o Michael Jackson, que são a arte encarnada... São eles que nos interpretam. São eles que nos comovem, são eles que fazem com que a gente se pergunte, são eles que mostram, de certa forma, uma pequenez do nosso dia a dia, são eles que mostram que o mundo pode ser diferente, que a gente pode andar diferente.
Acho que todos nós temos um interrogante em nós, sabendo que sempre existe um descompasso entre o que a gente sente e o que a gente diz. A gente vive desse descompasso.
E que responde a sua pergunta sobre o porquê essa comoção mundial. É porque ele não é de ninguém. E, como ele não é de ninguém, cada um de nós pode ver o nosso Michael Jackson.
Eu acho que o que faz a obra de arte ser imortal, o que faz um livro ser imortal, um quadro ser imortal, um artista ser imortal, é exatamente o fato de ele escapar sempre a todas as tentativas nossas cognoscíveis de aprendê-lo. Nós não conseguimos fazer isso com a Mona Lisa, nós não conseguimos fazer isso com o Moisés de Michelangelo. Nem o autor dele consegue. Eu acho que o Michael Jackson é isso. E tem uma coisa muito interessante no Michael Jackson. Ele morre no momento que ele ia retomar, e ele não retomou. Então cada um de nós vai ficar com a ideia do show que ele não fez. Ele morreu no momento da esperança, o que, evidentemente, contribui muitíssimo para um envolvimento de todos nós, porque todos nós sonhamos juntos o que seria esse show em Londres.
Todo talento é uma coisa que põe você diferente das pessoas, diferente do grupo. Agora, quando alguém tem um talento claro, que o define na sua diversidade. Eu tomaria pela essência da palavra, pela diversidade, pelo diferente, pelo não costumeiro, pelo não habitual que ele era.  Então eu acho que o artista mostra a necessidade, a cada um de nós, de saber suportar essa singularidade. E isso não é fácil.
Michael Jackson teve problemas? Nós sabemos. O Michael Jackson teve sofrimento? Nós sabemos. O Michael Jackson é uma pessoa esquisita a todas nós? Nós sabemos.  Isso explica o talento, a genialidade de um homem que revolucionou a música? Nós não sabemos. Quer dizer, nós não temos a essência de ir lá dizer: “Com isso daqui eu faço outro Michael Jackson”. Eu não faço. O mundo hoje está de luto. Nós perdemos a maior expressão da música popular no século, uma pessoa que revolucionou. Nós ficamos de luto porque nós perdemos, mas nós não sabemos exatamente o que nós perdemos. Eu acho que nesse momento, você tem duas opções na vida, para dizer grosseiramente: Ou você consegue se responsabilizar pela sua singularidade, ou você vira genérico.  Se você puder suportar isso, e suportar isso quer dizer suportar o desentendimento, suportar o mal entendido, suportar o silêncio, suportar a angústia, porque não tem padrão, então a angústia vai aumentando, suportar essa singularidade, aí nesse momento a sua possibilidade de se manter nesse ponto é muito maior.
Para encerrar, brevemente, duas palavras, uma sobre o herói e uma sobre o Michael Jackson. Sobre o herói, acho que nós estamos em um momento na globalização, nós temos uma outra relação com os heróis, os heróis sempre existirão, sempre existiram aquelas pessoas que nos tocam de alguma forma. Será aquele que nos interrogará, que nos fascinará, que nos equivocará, que nos mostrará algo diferente e diverso, como o Michael Jackson. E a última palavra, eu acho, sobre o dia de hoje, é “Que pena...”.




Eu, Álison

Nenhum comentário:

Postar um comentário