segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Leonardo e Freud

Todos os posts que tiverem o nome "Leonardo e Freud" contêm trechos retirados de um livro que Freud escreveu sobre Leonardo da Vinci. Esse é o primeiro, mas adiante haverão mais posts com outros trechos.

Leonardo da Vinci (1452 - 1519) foi admirado, até mesmo pelos seus contemporâneos, como um dos maiores homens da renascença italiana. No entanto, já nessa época começara a parecer um enigma, tal como nos parece hoje em dia. Era um gênio universal “cujos traços se podia apenas esboçar, mas nunca definir”.
O que impediu que a personalidade de Leonardo fosse compreendida pelos seus contemporâneos? O motivo, certamente, não terá sido a versatilidade de seus talentos, nem a extensão do seu saber. Tampouco pertencia ele à classe dos gênios fisicamente mal dotados pela natureza e que por isso mesmo desprezam as formas exteriores da vida e, numa atitude de penosa melancolia, fogem a qualquer contato com seus semelhantes.
Foi por isso, forçosamente, um solitário entre seus contemporâneos. Para eles, sua atitude em face da sua arte foi sempre incompreensível.
O que ao leigo pode parecer uma obra prima nunca chega a representar para o criador uma obra de arte completa, mas apenas a concretização insatisfatória daquilo que tencionava realizar; ele possui uma tênue visão da perfeição que tenta sempre reproduzir sem nunca conseguir satisfazer-se.
Parecia tremer o tempo todo quando se punha a pintar e, no entanto, nunca terminou nenhum trabalho que começou, sentindo um tal respeito pela grandeza da arte que descobria defeitos em coisas que, aos outros, pareciam milagres“.
Um de seus contemporâneos, o contista Matteo Bandelli, que na época era um jovem frade naquele convento, conta que Leonardo costumava muitas vezes subir nos andaimes pela manhã cedo e lá permanecer até o cair da tarde sem nem uma vez descansar o pincel e nem se lembrar de comer ou de beber. Depois, passava dias sem tornar a tocar no trabalho. Muitas vezes passava horas diante de sua obra, somente analisando-a mentalmente.
Ao contrário, é possível observar uma extraordinária profundeza e uma riqueza de possibilidades que vêm dificultar qualquer decisão final, ambições enormes difíceis de satisfazer, e uma inibição na execução definitiva para a qual não encontramos justificativa, mesmo considerando que o artista nunca consegue realizar o seu ideal.




Eu, Álison

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