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sábado, 13 de setembro de 2014

sábado, 23 de agosto de 2014

domingo, 20 de julho de 2014

Decidiu-se pela primeira

Ao longo da vida do escritor [Ernest Hemingway], o tema suicídio aparece em escritos, cartas e conversas com muita frequência. Seu pai suicidou-se em 1929 por problemas de saúde e financeiros. Sua mãe, Grace, dona de casa e professora de canto e ópera, o atormentava com a sua personalidade dominadora. Ela enviou-lhe pelo correio a pistola com a qual o seu pai havia se matado. O escritor, atônito, não sabia se ela queria que ele repetisse o ato do pai ou que guardasse a arma como lembrança. Aos 61 anos e enfrentando problemas de hipertensão, diabetes, depressão e perda de memória, Hemingway decidiu-se pela primeira alternativa.






Eu, Álison

sábado, 22 de março de 2014

É uma anta

"Temos que resguardá-lo como um excelente autor. Agora, como um filósofo, como um pensador, é uma ANTA. Se empurrar ele, ele não vai levantar. Você tem que dar graminha na boca dele, porque ele não vai levantar".






Eu, Álison

Janela da Alma - Parte 1

Os textos que seguem foram retirados de um documentário chamado Janela da Alma, em que várias pessoas com problemas visuais comentam sobre a importância da visão em suas vidas. Não mencionei todas, apenas as que chamaram minha atenção, mas você pode procurar e olhar esse documentário por completo, pois vale a pena. Ele te faz pensar muitas coisas que você nem imaginava. Pelo menos eu não imaginava. Como o texto é grande, vou publicar em partes.

Nós não temos, por exemplo, os olhos como os têm a águia e o falcão. Nós vivemos dentro de uma possibilidade de ver, que é nossa, e nem ver, supondo que os nossos olhos são olhos sãos, normais, e nem ver nem de menos, nem demais. E para tornar isto claro, eu digo que, se o Romeu da história tivesse os olhos de um falcão provavelmente não se apaixonaria por Julieta, porque os olhos dele veriam uma pele que, enfim, veriam uma pele que provavelmente não seria agradável de ver. Porque a acuidade visual do falcão, cujos olhos o Romeu teria, não mostraria a pele humana tal como nós a vemos. - José Saramago

A realidade real não existe, na verdade. É sempre um olhar, é sempre um olhar condicionado. Cada experiência de olhar é um limite. A gente não conhece as coisas como elas são, mas só mediado pela nossa experiência. - Paulo Cezar Lopes

Portanto, saber o que é realidade... Bom, se eu acreditar que Deus fez os meus olhos para que eu visse a realidade tal como ela é, então estou bem, mas como nós sabemos que não é assim, então não vale a pena estarmos a perder tempo com isso. - José Saramago

Se o olho é a janela da alma, então você tem que olhar por essa janela com outro olho, e esse outro olho também é a janela da alma. Você tem que olhar por essa janela com outro olho. Quer dizer, a janela não olha. Quem olha é um olho através da janela. Num certo sentido, é uma metáfora complicada que leva a um tipo de coisa que não resolve o problema real de explicar o que é a visão, porque... Você vai ao infinito com essa história da janela da alma, entende? E nunca chega, na verdade, à própria alma. - Antônio Cícero

Mas vocês não são videntes clássicos, vocês são cegos, porque, atualmente, vivemos em um mundo que perdeu a visão. A televisão nos propõe imagens prontas e não sabemos mais vê-las, não vemos mais nada porque perdemos o olhar interior, perdemos o distanciamento. Em outras palavras, vivemos em uma espécie de cegueira generalizada. Eu também tenho uma pequena televisão e assisto-a sem enxergar. Mas há tantos clichês que não é preciso que eu veja fisicamente para entender o que está sendo mostrado.
Já era cego quando tirei minhas primeiras fotos, no colégio. Na época, minha irmã tinha comprado uma Zork 6, uma máquina russa. Ela me emprestou a máquina, e tirei algumas fotos de colegas na escola. Depois, levei a um fotógrafo, que já morreu. Ele o revelou e aconteceu um milagre: lá estavam as imagens. Fiquei chocado e surpreso. Disse a mim mesmo: "Não vejo as imagens, contudo sou capaz de fazê-las". Essa é minha sobrinha Verônica, a quem fotografei em um campo que vira há muito tempo. Pedi a ela que dançasse e corresse. Ela usava um sininho que eu escutava. Na verdade, fotografei o sininho, mas este não pode ser visto. Trata-se, então, de uma fotografia do invisível.
Às vezes percebo por mim mesmo, ou escuto e oriento a máquina em direção à voz. Às vezes alguém me conta. Às vezes são os livros que me contam. Às vezes é meu coração que me conta. Às vezes apaixono-me por uma paisagem ou por uma mulher e tento torná-la mortal, pois minhas fotos são bíblicas. Se faço nus de mulheres, faço-o por razões bíblicas, pois quando Adão e Eva se deram conta de que estavam nus compreenderam também que haviam se tornado mortais. Eis porque fotografo a mortalidade das mulheres. É um pouco trágico, mas é belo ao mesmo tempo. É preciso dar-se conta da mortalidade das mulheres para amá-las mais ao longo da vida e do tempo.
Atualmente eu prefiro olhar ao vivo. Isso é muito importante. Não devemos falar a língua dos outros, nem utilizar o olhar dos outros, porque neste caso existimos através do outro. É preciso tentar existir por si mesmo. - Eugen Bavcar





Eu, Álison

domingo, 9 de março de 2014

É isso que eu acho

Acho que quando uma pessoa escreve, coloca um pouco do que está sentindo para fora e tenta aprisionar aquilo nas palavras. É como se escrevendo ela tirasse de dentro de si um pouco do peso que aquilo representa e o colocasse no texto. Acredito que muitas das pessoas que escrevem compulsivamente o fazem por esse motivo, sendo talvez essa sua única alternativa para que se sintam melhores. O problema em textos assim é que o leitor não deve ater-se ao que o autor escreveu, mas ao que ele esconde por detrás das palavras, pois quem escreve com emoção certamente escreve mais do que a aparência demonstra.


Mas há também uma vantagem. Se você conseguir chegar a um ponto suficientemente profundo para atingir toda a significação que o autor disfarçou no traço de sua tinta, ele poderá, mesmo que por um instante, ligar-se à mente do autor e ao que ele quis dizer. Por um único momento, independente da distância que separa os dois corpos um do outro, o indivíduo que escreveu e o sujeito que está lendo estarão conectados, unidos por um sentimento em comum. Suas mentes serão uma só e cada uma delas terá à disposição tudo o que a outra tem dentro de si. Eles estarão, apesar de todos os pesares e de todos os problemas, compartilhando um momento em que o tempo não existe, pois sendo essa ligação apenas mental e abstrata, o tempo não pode alcançá-la. Portanto, no mundo das ideias, onde se dá essa ligação, um instante de união é um instante eterno. E ninguém duvida do que um momento eterno pode fazer com alguém.








Eu, Álison

sábado, 1 de março de 2014

Por que?



"Por que deveria eu pelos outros sofrer, 
quando ninguém por mim irá suspirar?" - Lorde Byron








Eu, Álison

sábado, 18 de janeiro de 2014

Está tudo acabado

Dizem que a obra do grande artista mistura-se com a sua vida, e vice-versa. Com Edgar Allan Poe esta máxima aplica-se perfeitamente. Apesar de ter escrito para as massa, como forma de ganhar a vida, ficou conhecido por produzir obras cheias de morte, medo e dor. Influenciou artistas como Machado de Assis, Fernando Pessoa, Franz Kafka, e outros.

Nascido em Boston, no dia 19 de janeiro de 1809, ficou órfão aos 2 anos. Apesar de algum reconhecimento, foi um completo fracasso em vida como homem e artista.
Em 1835, casou-se com sua prima, Virginia Clemm. Para muitos, o grande amor de sua vida. Em meio à grandes dificuldades econômicas, mudou-se constantemente de cidade, sempre com empregos mal remunerados. No ano de 1845, publicou sua obra mais famosa, O Corvo. Mas ele mesmo, certa vez, havia dito que a maldição era um cão negro seguindo a sua vida, pois em 1847 sua amada Virginia tossiu sangue pela primeira vez.
Era o fantasma da tuberculose pairando sobre sua felicidade. Nos meses seguintes, ela havia apresentado melhoras. Esperança que serviu apenas para acentuar a dor vindoura. Já que no fim daquele mesmo ano, as tosses com sangue voltaram mais intensas, junto com o fogo da febre. Ela viria a morrer pouco tempo depois, em presença do poeta que assistia a tudo impotente. A partir daí, mergulhou numa existência cada vez mais sombria.

Os dois últimos anos de sua vida estão encobertos por uma névoa de mistério. Mas sabe-se que planejava-se casar novamente em 1849. Com esse propósito, ele viajou para Baltimore no dia 27 de setembro de 1849. Depois de jantar com amigos, partiu às 4 horas da manhã, já que planejava uma viajem rápida. Nunca chegou ao seu destino.
Em 03 de outubro de 1849, Edgar Allan Poe foi encontrado em estado de delírio, com roupas que não eram suas, caído nas calçadas da cidade, por um homem que escreveu para um amigo dele. Na carta, ele diz que encontrou um mendigo que responde por Allan Poe e alega conhecer o destinatário da carta. Pede desesperadamente a presença do mesmo, pois o estado de saúde dele era grave. Esse amigo o havia levado à um hospital, no qual faleceria em 07 de outubro de 1849.

Durante os 4 dias de internação, Edgar Allan Poe não conseguiu pronunciar um discurso coerente sobre o que havia lhe ocorrido. Chama constantemente por alguém com o nome de Reynolds. Suas últimas palavras foram: “Está tudo acabado: escrevam Eddy já não existe”. A causa da morte nunca foi precisamente apurada. Nem quem era o homem chamado Reynalds.






Eu, Álison

domingo, 22 de dezembro de 2013

A loucura me salvou

Tal é a força da escrita: abolir o tempo, suprimir as distâncias, reunir os opostos.

Para Virginia, "escrever é um inferno", e ela não esconde de sua amiga Violet que "às vezes fica horas e horas diante de uma lareira sem fogo, com a cabeça entre as mãos".
De agora em diante, Virginia conhecerá apenas estados paroxísticos, oscilando continuamente entre a exaltação e o desespero. Quando afirma estar feliz, será sempre com "aquela impressão de um meio fio estreito na borda de uma calçada que dá em um precipício". Cada novo livro será um mergulho em águas profundas na qual a romancista não hesitará em colocar sua vida em perigo.
Aquela que escreve em seu Diário "quando escrevo não passo de uma sensibilidade" teme mais do que qualquer pessoa o período que segue a criação propriamente dita.

Entretanto, em 16 de janeiro de 1936, enquanto corrige as provas de Os Anos, encontra-se novamente à beira do precipício aniquilada por um sentimento de fracasso irremediável.

Nunca me senti tão infeliz quanto ontem à noite [...]

Essa mulher tão perfeitamente feliz num dia e tão desesperadamente deprimida no outro conservou um talismã de sua infância que guardará preciosamente durante toda sua vida. Esse, apesar de não a salvar, irá ajudá-la nos momentos mais difíceis.
Os Stephen têm comum o vício impune da leitura. Têm também, como se fosse um gene transmissível, um certo gosto pela escrita.

Durante seus trinta anos de escrita, Virginia conhecerá somente condições estremas, indo da euforia mais comunicativa ao abatimento mais preocupante. Com A Viagem, entra para a literatura e assina um pacto consigo mesmo que lhe parece proibir qualquer forma de acesso à felicidade.

Em maio de 1895, Julia Princep se retira na ponta dos pés do quadro de cores vibrantes da infância. Para a família Stephen, é um verdadeiro terremoto. Para Virginia, menininha de sensibilidade exacerbada, o fim de toda possibilidade de felicidade.

Virginia, por sua vez, observa. Espectadora de um mundo na qual não consegue tomar parte, vive o início de um sentimento de ausência que não a deixará mais.

A jovem Virginia grava tudo sem conseguir se deixar levar por uma emoção cuja violência a aniquilará.

O que a morte de Julia Stephen revela é uma propensão à instabilidade psíquica com a qual Virginia deverá lidar toda sua vida.

Estar louca, Ou, pior ainda, que os outros a achem louca: esse é o pavor dessa mulher que lutará corajosamente toda sua vida contra sintomas que cada um vai querer ligar a um nome. Histeria. Psicose. Depressão.

A morte da qual sou perpetuamente consciente [...] se aproxima tão rápido!

Alguns meses depois de seu casamento, Virginia Woolf fica gravemente doente. Sua recusa em alimentar-se e suas dificuldades de conseguir dormir inquietam os próximos. Chamaram o médico que, entre outras recomendações de praxe, prescreve-lhe  barbitúrico, um sedativo potente. Alguns dias mais tarde, ela força voluntariamente a dose e quase morre.

Virginia sente-se "acorrentada a um rochedo, coagida à inação, condenada a deixar cada preocupação, cada rancor, irritação ou obsessão atacá-la persistentemente com unhas e dentes".
Seu desespero, contido nos primeiros anos, acaba pouco a pouco por explodir.

Em 1922, anota a contragosto em seu Diário:

O único interesse que as pessoas têm por mim como escritora vem, estou começando a me dar conta, de minha personalidade estranha. 

É o preço da glória. O início da lenda. Lenda que não quer ver em Virginia outra coisa além de uma mulher melancólica e suicida. Frágil e cortada do mundo. Fantasiosa e instável.

Longe da agitação da capital, a romancista experimenta com sensualidade as delícias do campo e pode se entregar com toda a tranquilidade à sua ocupação preferida. Ali, tudo é ordem, calma e volúpia.

Leonard, por sua vez, que sempre tem uma inclinação ao pessimismo, torna-se simplesmente lúgubre. "As pessoas continuarão a morrer, e assim até a nossa própria morte", confia à sua mulher.

Por que as depressões crônicas dessa mulher, suas repetidas tentativas de suicídio e seus acessos de demência foram retidos em vez da extraordinária coragem que ela demonstrou para conseguir realizar sua obra, tão rica e complexa, apesar de sua "doença sinistra"? Por que ter destacado sua fragilidade, ao passo que é precisamente sua força que é impressionante? Depois de cada crise, que a deixa num estado extremo de deterioração física e psicológica, Virginia Woolf encontra ainda e sempre a força para comprometer-se novamente com uma nova tarefa.Seja em 1913, quando termina seu primeiro romance, apesar de seu estado de saúde que pede internação. Seja em 1918, quando começa Noite e Dia com o único objetivo de manter a cabeça fora d'água entre dois períodos de imersão na demência. Seja em 1930, quando escreve As Ondas e vê novamente surgir os signos indicadores da depressão. Seja em 1936, quando termina Os Anos e que atravessa uma crise de desespero cuja violência lhe lembra o fim esgotante de A Viagem. De cama, emagrecida, pálida, vítima de alucinações, de dores de cabeças assustadoras, Virginia Woolf persiste.

A escrita é a única saída que essa mulher, que se define como "uma melancólica de nascimento", encontrou para salvar-se. Cada livro é uma vitória sobre a doença. Um combate contra as trevas das quais sai sempre vitoriosa, mas raramente aliviada.
Com Os Anos, os sintomas da depressão vêm à tona novamente. "Escrever é um esforço, escrever é o próprio desespero", anota em seu diário sobre "esse livro interminável".

O mesmo medo de não ser capaz de expressar uma emoção que parece ocultar propositalmente a extensão de sua dor.

Como se o desaparecimento de seu amigo tivesse definitivamente quebrado algo dentro dela.
"Como se nos chocássemos contra um muro. Um tal silêncio. Um tal empobrecimento. Quantas coisas ele irradiava".
"Lutamos todos com os nossos cérebros, nossas paixões e todo o resto, e tudo isso para sermos vencidos", anota em seu Diário em um dia de desespero.

O que resta? Em que se agarrar? Tudo não passa de desolação. Mesmo a escrita do Diário não parece mais oferecer consolo. Em 29 de dezembro de 1940, essa constatação lapidar: "Todo desejo de continuar esse Diário me abandona".
Lytton Strachey, Katherine Mansfield, Roger Fry, todos seus melhores amigos se foram. Apenas Virginia, soldadinho valente, continua lutando com as palavras. Um embate que a cada dia lhe parece mais inútil.

Enquanto tem consciência de estar tomada pela doença, tenta, mais uma vez, para mantê-la longe, examinar a loucura sob o ângulo do estudo. Mas, pela primeira vez, essa vontade que tanto pôs à prova e que lhe permitiu que se mantivesse à beira do abismo, não responde mais. Alguma coisa se rompeu. Definitivamente.

Para Virginia, o pesadelo recomeça. As visões. As alucinações. As eternas recomendações que nunca serviram para nada além de isolá-la um pouco mais nesse mundo opaco e frio no qual ela sente que está sendo inexoravelmente enterrada.
"Lutei tanto quanto pude, mas não consigo mais". Ninguém poderá salvar Virginia Woolf. Pela primeira vez, Leonard chegará tarde demais.

No dia 28 de Março de 1941, após ter um colapso nervoso, Virginia Woolf suicidou-se.




Eu, Álison

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

E enfim estaria bem

Se você estivesse pensando claramente, 
perceberia que aquela cidade acabou com sua vida.


Se eu estivesse pensando claramente, não teria mais vida alguma.






Eu, Álison

terça-feira, 10 de setembro de 2013

As almas sensíveis

Por consequência, considerando o belo como o meu terreno próprio, perguntei-me: “Qual é o tom para a sua manifestação mais alta?”. Este seria o tema de minha seguinte meditação, e toda a experiência humana nos leva a crer que esse tom é o da tristeza. Qualquer que seja seu parentesco, a beleza, em seu desenvolvimento supremo, induz às lágrimas, inevitavelmente, as almas sensíveis. Assim, a melancolia é o mais idôneo dos tons poéticos.

Edgar Allan Poe







Eu, Álison

segunda-feira, 29 de julho de 2013

As duas Alices

As Aventuras de Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho - e o que ela encontrou lá são os títulos exatos dessas duas obras fundamentais escritas pelo matemático e religioso inglês Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), mais conhecido sob o pseudônimo de Lewis Carroll. Os dois volumes, informalmente chamados de "as duas Alices", foram publicados respectivamente em 1865 e 1871, e, desde então, vêm encantando leitores de todo o mundo.
Em nosso país, infelizmente, a divulgação dessas obras se deram mais por intermédio de adaptações ligeiras - que adocicam as aventuras para enquadrá-las no gênero conto de fadas - de que por suas versões originais, coisa que só aconteceu bem recentemente. Acreditamos, por isso, que o conteúdo das Alices ainda permanece desconhecido de boa parte do público brasileiro.
É fato que, com o passar do tempo, as Alices foram ganhando mais a atenção do publico adulto do que propriamente a do infantil, e personagens insólitos como o Chapeleiro Maluco, a Lagarta, Gato que ri, a Rainha de Copas começaram a exercer fascínio sobre a mente de filósofos, psicólogos e educadores. Isso porque muito dos temas das histórias de Alice se prestam a uma decifração lógico matemática, e exibem uma intrincada rede de significações fincadas no pensamento dos filósofos estoicos gregos. Pelas Alices proliferam séries de paradoxos, alogismos, enigmas e jogos semânticos, além de um elenco extenso de imagens do inconsciente, algo que, convenhamos, não estaria necessariamente no lista de interesses imediatos das crianças.
Se é assim, por que Lewis Carroll teria escrito algo tão "complicado"? É preciso lembrar que o autor era dono de uma personalidade excêntrica e que escreveu seus dois livros para Alice Liddell, uma menina bastante inteligente e fascinada pelas traquinagens mentais de seu mentor. Ademais, na segunda metade do século XIX, estamos na recatada Inglaterra vitoriana, época em que algumas das saudáveis diversões infantis eram recitar poemas trocadilhescos, entoar paródias de canções e decorar histórias edificantes. Época do nascimento da puericultura, pela qual se visava educar crianças administrando seus desejos.
Tanto em As Aventuras de Alice no País das Maravilhas como em Através do Espelho - e o que encontrou por lá, Lewis Carroll explora o elemento arquetípico do trajeto, da viagem de um herói a um país distante. Um enredo que confere interesse e excitação imediatas aos leitores, pois como lembra o filósofo francês Gilles Deleuze (1925 - 1995): "A criança não para de dizer o que faz ou tenta fazer: explorar os meios, por trajetos dinâmicos. e traçar o mapa correspondente. Os mapas dos trajetos são essenciais à atividade psíquica." Nos dois volumes de Carroll, é evidente o desenho de um percurso exploratório. Mas trata-se de uma viagem singular a "países" paradoxalmente reconhecíveis e desconhecidos, regidos por absurdas leis do mundo dos sonhos. E aí encontramos a chave do universo carrolliano: o onirismo, a superposição de trajeto da realidade e do sonho, o sonho dentro do sonho, com toda a gama de oposições e inversões, cuja metáfora seria o próprio espelho ou o jogo de xadrez com o tabuleiro e peças perfiladas frente a frente (outro espelho!), um pouco à maneira das gravuras de M. C. Escher.
As viagens das Alices parecem uma espécie de rito de passagem moderno. Elas colocam a menina Alice em situações em que se discutem problemas de identidade, tão importantes a uma menina que está passando da infância para a adolescência. Após crescer e encolher seguidas vezes, a questão socrática do "conhece-te a ti mesmo", é colocada para Alice numa fábula encenada no capítulo 'Conselhos de uma Lagarta' de As Aventuras de Alice no País das Maravilhas.
A Lagarta, sentada sobre um cogumelo e fumando seu narguilé, pergunta à Alice: "Quem é você?". E a menina responde: "Sei quem eu era quando me levantei hoje de manhã, mas acho que me transformei várias vezes desde então". A Lagarta rispidamente pede que a menina se explique. Alice diz que não pode se explicar porque ela não é ela. A questão do conhecimento de si se projeta para a questão do conhecimento dos outros e Alice diz à Lagarta: "Bom, quem sabe a sua maneira de sentir seja diferente, mas o que sei é que tudo isso pareceria muito esquisito para mim." Como Alice pode saber se a Lagarta tem sentimentos ou pode pensar? O problema assume uma dimensão mais ampla, pois Alice, não sabendo quem é, não pode ter certeza a respeito do mim a que seus sentimentos pertencem. Alice ainda pergunta à Lagarta quem ela (lagarta) é. A Lagarta reponde com uma pergunta: "Por quê?". Então Alice se dá conta de que não há razão por quê, pois se a Lagarta tivesse respondido "Sou uma lagarta", isso de nada adiantaria, pois é filosoficamente impróprio. Afinal, um nome ou uma condição social não diz absolutamente nada a respeito de nossa essência última.
Noutro ponto da cena, Alice considera a altura de oito centímetros lamentável, ao passo que a Lagarta julga um tamanho muito bom. O que para Alice é óbvio merece uma outra visão do bichinho que enxerga o mundo por sua própria ótica. Por fim, para que Alice prossiga sua viagem controlando seus tamanhos, a Lagarta lhe oferece um cogumelo. Mordendo de um lado, ele o fará crescer; mordendo de outro, ele o fará diminuir. Porém, como é possível falar dos lados direito e esquerdo de um cogumelo perfeitamente redondo? Mais uma vez tudo se passa do ponto de vista do animal, para quem um círculo pode ter lado.
O problema tocado pela fábula é como "pensam" as Lagartas, ou melhor, como pensam as outras pessoas. O que eu chamo de liberdade é a mesma coisa que você chama de liberdade? O azul que eu enxergo é o mesmo que todas as pessoas enxergam? Por trás dessa história absurda (nonsense) encerra-se uma discussão profunda sobre o respeito à diferença de pensamento. Talvez seja esse um dos belos achados que Alice traga a quem se aventure a segui-la em suas maravilhosas viagens. Um trajeto pelo mundo dos sonhos que nos resgata a realidade.







Eu, Álison

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Leonardo e Freud III

De um homem que consegue chegar até o conhecimento não se poderá dizer que ama ou odeia; situa-se além do amor e do ódio. Terá pesquisado em vez de amar. As tormentosas paixões de uma natureza, que inspiram e que esgotam, paixões que foram, para outros, fonte de experiências mais plenas, parecem não o haver atingido.
Um homem que começou a vislumbrar a grandeza do universo com todas as suas complexidades e suas leis, esquece facilmente sua própria insignificância. Perdido de admiração e cheio de verdadeira humildade, facilmente esquece ser, ele próprio, uma parte dessas forças ativas e que, de acordo com a medida de sua própria força, terá um caminho aberto diante de si para tentar alterar uma pequena parcela do curso preestabelecido para o mundo – um mundo em que as menores coisas são tão importantes e extraordinárias quanto o são as coisas grandiosas.
Suas investigações estenderam-se praticamente a quase todos os ramos da ciência natural e em cada um deles foi um descobridor ou, pelo menos, um profeta pioneiro. No entanto, sua ânsia de conhecimento foi sempre dirigida ao mundo exterior; qualquer coisa o afastava da investigação da alma humana. Na “Academia Vinciana”, para a qual desenhou alguns emblemas habilmente entrelaçados, pouco lugar havia para a Psicologia.
Depois da pesquisa, quando tentou voltar ao seu ponto de partida, o exercício da sua arte, sentiu-se perturbado pelo novo rumo de seus interesses e pela mudança na natureza de sua atividade mental.
Depois de esforços exaustivos para exprimir numa obra de arte tudo o que tinha em seu pensamento com relação a ela, era forçado a desistir, deixando-a inacabada ou declarando-a incompleta. O artista usara o pesquisador para servir à sua arte; agora o servo tornou-se mais forte que o seu senhor e o dominou.
Ele lia muito e o seu interesse estendia-se a todos os ramos da literatura e do saber.






Eu, Álison

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Nicolau Copérnico

O nome primitivo de Copérnico era Kopirnig, que significa humilde. E essa palavra sintetiza tanto a origem como a personalidade do “anatomista do céu”.  Em criança, via o Sol “rolar através do firmamento”, do esplendor da aurora ao esplendor do entardecer, e à noite contemplava as inúmeras velinhas estelares que luziam no teto abobadado do céu.
A dor da morte do pai foi mitigada pelo privilégio, que agora desfrutava, de explorar os numerosos volumes da biblioteca do bispo – livros, não só de astronomia, mas de literatura, pintura, escultura, matemática e música. Assim adquiriu desde o princípio um interesse universal pelas ciências e artes.
Com efeito, o nome de Copérnico acabara por se tornar sinônimo de bondade. E de sabedoria. Sempre que se tinha em vista um novo projeto em benefício da cultura ou das condições de vida, Copérnico era chamado a apresentar sugestões.
E assim continuou a estudar a majestade dos céus, convencendo-se cada vez mais da insignificância do homem. E da escassa importância da terra. Começava a perceber que essa nossa terra não passa de uma partícula de pó a revolutear eternamente ao redor da chama do sol.
E assim o sistema de Copérnico, longe de amesquinhar, em última análise engrandece a dignidade do homem. Pois, “libertando” o seu corpo, liberta-lhe também o espírito. Dá-lhe asas à imaginação e desperta-lhe o apetite espiritual.





Eu, Álison

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Hora de se manifestar

Uma professora havia proposto um trabalho para uma turma do 3º ano do Ensino Médio. Era fim de ano, último trimestre. Como de costume, foi exposto o assunto do trabalho, o que cada um devia fazer  e marcado um dia para discussão em aula. Na data marcada, todos apresentaram seus respectivos trabalhos, mas a professora notou que uma menina não havia falado. Uma daquelas que senta no fundo da sala e que não conversa com ninguém. Quer dizer, com quase ninguém.
A professora quis saber por que a menina não havia feito o trabalho. Ela deu sua justificativa para a professora, que não ficou nada contente com a menina. Todos na sala estavam calados. Estava claro que a professora estava falando sério, muito sério. Ela então sugeriu a possibilidade de dar um outro trabalho à menina, mas insinuou que ela também não iria fazê-lo, assim como aconteceu com o primeiro. Nesse momento, um rapaz que também sentava no fundo da sala manifestou-se e dirigiu a palavra à professora, apesar de todos os outros colegas estarem quietos, ouvindo o diálogo entre ela e a menina. O rapaz, movido por um senso de justiça, ou talvez por um outro motivo não revelado por ele, disse à professora: "Professora, eu não acho que ela [a menina] não irá fazer o outro trabalho que você quer dar só porque não pôde fazer o primeiro, que eu e o resto da turma apresentamos hoje". Com um tom sério, a professora pergunta ao rapaz: "Tu achas mesmo?" e ele, demonstrando uma segurança incomum em seu tom de voz, disse: "Eu acho", que soou como "tenho certeza absoluta".

Hoje, a menina e o rapaz estão formados e tornaram-se grandes pessoas.
Ou talvez nessa época eles já fossem grandes pessoas, mas ainda não soubessem disso...





Eu, Álison

sábado, 28 de janeiro de 2012

Santa Ignorância

Eu percebo que muitas pessoas colocam frases de pessoas famosas em perfis de Orkut, subnick de MSN, Facebook e por aí vai. Mas o que me deixa revoltado é que a grande maioria das pessoas que fazem isso não conhecem o dono da frase nem sabem o que ela significa. Por exemplo, alguém coloca uma frase do Shakespeare, tipo "ser ou não ser, eis a questão". Mas a pessoa não sabe quem foi Shakespeare, o que ele fazia, em que país nasceu, nem que essa frase não foi dita por dele, mas que está escrita num livro seu.

Antes de querer aparecer mostrando essas frases de efeito, faça o favor de conhecer um pouco do que você está escrevendo para não acabar colocando qualquer coisa sem sentido e terminar passando vergonha por querer parecer culto ou esperto.





Eu, Álison

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Uma fábula

Um cachorro dormia sobre uma pele de ovelha. Uma de suas pulgas, tendo sentido o cheiro da lã, achou que ali seria um lugar onde viveria melhor e mais protegida das garras do cachorro, em vez de alimentar-se dele como fazia. Sem mais refletir, abandonou-o e tentou com grande dificuldade insinuar-se até a raiz dos pelos, tentativa que se revelou inútil, pois eles eram tão compactos e espessos que a pulga não tinha como chegar à epiderme. Exausta, fatigada, desejou voltar a seu cachorro, mas ele havia partido. Após um longo arrependimento e lágrimas amargas, ela acabou por morrer de fome...







Eu, Álison

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um homem sem letras

"Como não tenho cultura literária, sei que algum presunçoso se achará no direito de criticar-me, alegando que não conheço as letras e que, por falta de experiência literária, não posso tratar como convém as questões de que me ocupo."
Leonardo di ser Piero da Vinci.






Eu, Álison