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domingo, 8 de junho de 2014

Para um grande espírito

O autor pretendia que uma expressão momentânea, o repuxar de um músculo ou um revolver de olhos eram o bastante para sondarem-se os pensamentos mais íntimos de um homem. Segundo ele, era impossível iludir a observação e análise de quem nelas se exercitasse com método e afinco. E os resultados seriam de tal maneira surpreendentes para os leigos que, antes de aprenderem eles os processos pelos quais o observador os obtivera, haviam de considerá-lo como um adivinho.


Não obstante, após a recente e extraordinária prova da rapidez das suas capacidades perceptivas, eu não duvidava que ele pudesse ver muitas coisas invisíveis para mim.

Se eu o puser muito ao corrente do meu método de trabalho, você chegará à conclusão de que, afinal de contas, sou um indivíduo como outro qualquer.
- Isso não acontecerá, repliquei. - Seus estudos levaram a investigação à altura de uma ciência exata e jamais serão superados.
Meu companheiro enrubesceu de satisfação ante essas palavras e o tom convicto em que eu as pronunciara. Não me havia escapado que ele era tão sensível aos elogios feitos à sua arte quanto uma menina a respeito de sua boniteza.

- Não pensei que o tivesse notado, murmurou ele. - Estava lá?
- Não.
- Ah! exclamou o funcionário com evidente alívio. Nunca se deve desperdiçar uma oportunidade, por pequena que seja.
- Para um grande espírito nada é pequeno, observou Holmes sentenciosamente.






Eu, Álison

sábado, 5 de abril de 2014

Janela da Alma - Parte 3

Todos nós somos criaturas emocionais, e creio que todas as nossas percepções, nossas sensações e experiências são carregadas de emoção, de pessoal emoção. Acredito que a emoção fique, por assim dizer, codificada na imagem. Curiosamente, às vezes, a emoção pode se separar da imagem. Aparentemente, o que acontece nesse caso é que o sentimento de ternura e familiaridade desaparece. Isso reforça a ideia de que o reconhecimento visual, a memória visual e toda a forma de percepção devem estar inseparavelmente ligadas à emoção. Quando a memória visual é desconectada da emoção que lhe corresponde uma grande crise nervosa pode ocorrer. - Oliver Sacks

O que é o olhar? É uma interpretação, não é? Sempre é uma interpretação. Tudo que a gente olha, a gente está mediado pelos nossos conceitos, pelos nossos valores. Tem tanta coisa. Às vezes, a gente passa diante do muro e sempre vê o muro. Num determinado dia aquilo se abre diferente, parece outra coisa, uma coisa nunca vista antes. - Paulo Cezar Lopes

É uma coisa linda. Viajando de ônibus... Eu estou lá na cadeira e eu estou vendo coisas maravilhosas que ninguém está vendo e eu estou vendo, e está todo mundo achando que eu não estou vendo. E enxergando menos do que eu! - Hermeto Pascoal

Eu estava em um restaurante em Lisboa, estava sozinho até, e de repente eu pensei: "E se nós fôssemos todos cegos?". E depois, praticamente no segundo seguinte, eu estava a responder, eu respondia a esta pergunta que tinha feito. Mas nós estamos realmente todos cegos. Cegos da razão, cegos da sensibilidade, enfim, de tudo aquilo que faz de nós não um ser razoavelmente funcional, no sentido da relação humana, mas pelo contrário, um ser agressivo, um ser egoísta, um ser violento, e isto é o que nós somos. E o espetáculo que o mundo nos oferece é precisamente esse. Um mundo de desigualdade, um mundo de sofrimento, sem justificação, ou melhor, com explicação. Nós podemos explicar o que se passa, mas não tem justificação. - José Saramago

A imagem que mais me faz falta é aquela da qual todos carecem, isto é, poder ver a si mesmo com próprios olhos. As pessoas acreditam que se veem com os próprios olhos, mas, assim como eu, precisam de um espelho. A diferença, no meu caso, é que os espelhos são diferentes. Mas isso é uma sorte para mim, porque dessa maneira evito me afogar, tal como o infeliz Narciso. Sou um Narciso sem espelho, isto é, é uma sorte. - Eugen Bavcar

O que eu acho é que nós nunca vivemos tanto na caverna de Platão como hoje. Hoje é que nós estamos a viver de fato na caverna do Platão. Porque as próprias imagens que nos mostram a realidade. Então, de uma maneira, substitui a realidade. Nós estamos no que chamamos de mundo audiovisual. Nós estamos efetivamente a repetir a situação das pessoas aprisionadas, atadas, na caverna de Platão, olhando em frente, vendo sombras, e acreditando que essas sombras são a realidade. Foi preciso passarem todos estes séculos para que a caverna do Platão aparecesse finalmente num momento da história da humanidade, que é hoje. E vai ser. E vai ser cada vez mais. - José Saramago

Vemos tantas coisas fora de contexto. A maioria das imagens que vemos são vistas fora de contexto. A maioria das imagens que vemos não tentam nos dizer algo, mas nos vender algo. Na verdade, a maioria as coisas que vemos, revistas, televisão, tentam nos vender algo. Mas a necessidade fundamental do ser humano é que as coisas comuniquem um significado, como uma criança ao se deitar. Ela quer ouvir uma história. Não é tanto a história que conta, mas o próprio ato de contar a história cria segurança e conforto. Acho que mesmo quando crescemos nós amamos o conforto e a segurança das histórias, qualquer que seja o tema. A estrutura da história cria um sentido, e nossa vida, de maneira geral, carece de sentido, por isso, temos uma intensa sede de sentido. - Wim Wenders

Acho que acontece o mesmo com todas as outras coisas que temos em excesso. Quero dizer, temos muitas coisas em excesso nos dias de hoje. A única coisa que não temos o suficiente é tempo, mas a maioria de nós tem tudo em excesso. E ter tudo em excesso significa que nada temos. A atual superabundância de imagens significa, basicamente, que somos incapazes de prestar atenção. Somos incapazes de nos emocionarmos com as imagens. Atualmente, as histórias precisam ser extraordinárias para nos comoverem. As histórias simples... Não conseguimos mais vê-las. - Wim Wenders

Vivemos todos numa espécie de Luna Park audiovisual, onde os sons se multiplicam, onde as imagens se multiplicam, e onde nós, mais ou menos, creio eu, que isso vai acontecer, nós vamos, cada vez mais, nos sentirmos perdidos. Perdidos, em primeiro lugar, de nós próprios. E em segundo lugar, perdidos na relação com o mundo. Acabamos por circular aí sem saber muito bem nem o que somos, nem para que servimos, nem que sentido tem toda a existência. - José Saramago

Tenho outro exemplo, também de Jacques Demy. Lembro-me de ter dito, durante a narração, que nenhum jornalista, nenhum repórter, teria continuado a filmar meu querido colocando seu suéter, apenas eu. Ninguém mais teria ficado lá para ver a cena. Ele arruma aqui, arruma ali, é interminável. Mas eu fiquei. E quando vejo as imagens, agora que ele se foi, lembro-me de como me irritava com sua lentidão, mas tendo-a filmado, eu o perdoei completamente, porque está em imagens, as pessoas podem ver como ele era lento. Acho que apenas eu, amando-o desta maneira, poderia ter sido capaz de filmar essa imagem. Então, a alteração não vem da doença, do mal estar, da cegueira. Acredito que venha do nosso sentimento, da nossa posição no momento que filmamos. Da nossa relação, da nossa conexão com o tema, com a pessoa filmada ou com aquele momento de nossas vidas. Você não acha? - Agnès Varda

No entanto, para se chegar a isso, a essa redução do trágico. Do anúncio do trágico. Mas ele conseguiu isso, essa síntese. É simples, e não é. Não é que o simples seja o desleixado, não é isso. É o simples, o substantivo. É a única coisa que poderia ser, é aquilo. É o irredutível. É isso que eu chamo simples. Eu acho que nisso talvez esteja, um pouco, a minha ideia do que seja a beleza. - Walter Lima Jr.

Gasto uma grande parte do meu dia no jardim, aí fora. Olhar para as plantas. Acompanhar, sobretudo, o crescimento delas. Esta preocupação minha com aquilo que cresce, e neste caso estou falando das plantas, e aquilo que está a passar nas plantas. A flor, o fruto, enfim, tudo isso. Se está mal, se tem alguma praga, se tem qualquer coisa, enfim. Tudo isto. E, sobretudo, esta atenção muito particular ao crescimento da árvore, ou da planta, em geral. No fundo, talvez tenha outra razão que eu não tinha pensado antes. Que, como, enfim, tenho 77 anos, minha vida vai se aproximando do fim. É como se eu tivesse a necessidade de existir. De ver aquilo que, de alguma forma, está ainda no princípio, por estar a crescer. E algumas vezes até, não direi falar com elas, porque elas não respondem, mas comentar, digamos, mais ou menos, em voz alta, como é que estão, se tem bom aspecto, se não tem bom aspecto. É uma coisa um pouco... Um pouco pateta, um pouco ridícula, mas enfim... - José Saramago






Eu, Álison

sábado, 22 de março de 2014

Pois eu vos digo:



 "Mas, bem-aventurados são os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem." - Mateus 13: 16.






Eu, Álison

Janela da Alma - Parte 1

Os textos que seguem foram retirados de um documentário chamado Janela da Alma, em que várias pessoas com problemas visuais comentam sobre a importância da visão em suas vidas. Não mencionei todas, apenas as que chamaram minha atenção, mas você pode procurar e olhar esse documentário por completo, pois vale a pena. Ele te faz pensar muitas coisas que você nem imaginava. Pelo menos eu não imaginava. Como o texto é grande, vou publicar em partes.

Nós não temos, por exemplo, os olhos como os têm a águia e o falcão. Nós vivemos dentro de uma possibilidade de ver, que é nossa, e nem ver, supondo que os nossos olhos são olhos sãos, normais, e nem ver nem de menos, nem demais. E para tornar isto claro, eu digo que, se o Romeu da história tivesse os olhos de um falcão provavelmente não se apaixonaria por Julieta, porque os olhos dele veriam uma pele que, enfim, veriam uma pele que provavelmente não seria agradável de ver. Porque a acuidade visual do falcão, cujos olhos o Romeu teria, não mostraria a pele humana tal como nós a vemos. - José Saramago

A realidade real não existe, na verdade. É sempre um olhar, é sempre um olhar condicionado. Cada experiência de olhar é um limite. A gente não conhece as coisas como elas são, mas só mediado pela nossa experiência. - Paulo Cezar Lopes

Portanto, saber o que é realidade... Bom, se eu acreditar que Deus fez os meus olhos para que eu visse a realidade tal como ela é, então estou bem, mas como nós sabemos que não é assim, então não vale a pena estarmos a perder tempo com isso. - José Saramago

Se o olho é a janela da alma, então você tem que olhar por essa janela com outro olho, e esse outro olho também é a janela da alma. Você tem que olhar por essa janela com outro olho. Quer dizer, a janela não olha. Quem olha é um olho através da janela. Num certo sentido, é uma metáfora complicada que leva a um tipo de coisa que não resolve o problema real de explicar o que é a visão, porque... Você vai ao infinito com essa história da janela da alma, entende? E nunca chega, na verdade, à própria alma. - Antônio Cícero

Mas vocês não são videntes clássicos, vocês são cegos, porque, atualmente, vivemos em um mundo que perdeu a visão. A televisão nos propõe imagens prontas e não sabemos mais vê-las, não vemos mais nada porque perdemos o olhar interior, perdemos o distanciamento. Em outras palavras, vivemos em uma espécie de cegueira generalizada. Eu também tenho uma pequena televisão e assisto-a sem enxergar. Mas há tantos clichês que não é preciso que eu veja fisicamente para entender o que está sendo mostrado.
Já era cego quando tirei minhas primeiras fotos, no colégio. Na época, minha irmã tinha comprado uma Zork 6, uma máquina russa. Ela me emprestou a máquina, e tirei algumas fotos de colegas na escola. Depois, levei a um fotógrafo, que já morreu. Ele o revelou e aconteceu um milagre: lá estavam as imagens. Fiquei chocado e surpreso. Disse a mim mesmo: "Não vejo as imagens, contudo sou capaz de fazê-las". Essa é minha sobrinha Verônica, a quem fotografei em um campo que vira há muito tempo. Pedi a ela que dançasse e corresse. Ela usava um sininho que eu escutava. Na verdade, fotografei o sininho, mas este não pode ser visto. Trata-se, então, de uma fotografia do invisível.
Às vezes percebo por mim mesmo, ou escuto e oriento a máquina em direção à voz. Às vezes alguém me conta. Às vezes são os livros que me contam. Às vezes é meu coração que me conta. Às vezes apaixono-me por uma paisagem ou por uma mulher e tento torná-la mortal, pois minhas fotos são bíblicas. Se faço nus de mulheres, faço-o por razões bíblicas, pois quando Adão e Eva se deram conta de que estavam nus compreenderam também que haviam se tornado mortais. Eis porque fotografo a mortalidade das mulheres. É um pouco trágico, mas é belo ao mesmo tempo. É preciso dar-se conta da mortalidade das mulheres para amá-las mais ao longo da vida e do tempo.
Atualmente eu prefiro olhar ao vivo. Isso é muito importante. Não devemos falar a língua dos outros, nem utilizar o olhar dos outros, porque neste caso existimos através do outro. É preciso tentar existir por si mesmo. - Eugen Bavcar





Eu, Álison

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Eu sou o que eu como

Portanto a pessoa que tem o hábito de consumir música ruim não tem muitas condições de se tornar uma pessoa boa, ou de ter uma percepção saudável do mundo.






Eu, Álison

sábado, 21 de dezembro de 2013

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

sábado, 16 de novembro de 2013

sábado, 26 de outubro de 2013

E tu

Que lê-me com teus olhos, o que viu primeiro?


Os escombros da minha alma ou que eu estava sob eles?
Os pedaços da eternidade ou os flocos do meu gênio?
Talvez os labirintos de vento.
Talvez os murmúrios do silêncio.






Eu, Álison

sábado, 28 de setembro de 2013

A oportunidade de amizade

- Pela primeira vez em muito tempo vejo a possibilidade de amizade. 
- Alguém novo em sua vida?
- Conheci um homem muito parecido comigo. Mesmos hobbies, mesmas visões do mundo. Mas não tenho interesse em ser amigo dele. Estou curioso sobre ele e isto me faz ter curiosidade sobre a amizade.
- A amizade de quem você está considerando?
- Por mais estranho que pareça, um colega e paciente. Não muito diferente de como somos paciente e colega. Falamos sobre ele anteriormente. 
- Will Graham?
- Ele não é como eu. Vemos o mundo de maneiras diferentes. Ainda sim, ele pode ver meu ponto de vista.
- Ao perfilar os criminalmente insanos.
- Tão bom quanto qualquer outra demonstração. Considero reconfortante.
- É bom quando alguém nos enxerga Hannibal. Ou tem a habilidade de nos enxergar. Requer confiança. Confiar é difícil para você.
- Você me ajudou a entender o que quero em uma amizade, e o que não quero.
- Alguém que mereça sua amizade.
- Sim.
- Passou muito tempo construindo muros, Hannibal. É natural querer ver se alguém é inteligente o suficiente para transpô-los.


- Will Graham está perturbado.
- E isso perturba você, além da preocupação profissional por um paciente?
- Eu vejo a loucura dele e quero contê-la, como um vazamento de petróleo. 
- Petróleo é valioso. Qual valor tem a loucura de Will Graham para você?
- Está insinuando que sou mais fascinado pela loucura do que pelo homem?
 -Você é?
- Não. Ele percebeu cedo que via as coisas de um jeito diferente das outras pessoas, sentia coisas diferentes. 
- E você também.
- Eu me vejo no Will.
- Você se vê na loucura dele?
- Loucura pode ser um remédio para o mundo moderno. Você toma moderadamente e é benéfico. 
- Você exagera e pode ter efeitos colaterais indesejados.
- Efeitos colaterais podem ser temporários. Eles podem ser um impulso para nosso sistema imunopsicológico para ajudar a combater crises existenciais da vida normal.
- Will Graham não lhe apresenta problemas da vida normal.
- Não. Ele não apresenta. 
- O que ele lhe apresenta?
- A oportunidade de amizade.
- Ele ainda é seu paciente, Hannibal. A respeito de Will Graham, se você sentir o impulso de se aproximar, você deve se forçar a dar um passo atrás.
- E apenas o assistir perder a cabeça?
- Algumas vezes, tudo o que podemos fazer é assistir...







Eu, Álison

sábado, 3 de agosto de 2013

E tudo se desfez

Ele soprou a vida e tudo se desfez
Ele fez haver a luz e tudo se iluminou
Eu vi o que ela viu
E agora percebo claramente


"Pois estive morto e eis-me de novo... Vivo". - Apoc. 1: 18.









Eu, Álison

sábado, 13 de julho de 2013

É sempre limitada



O mais importante é: o mundo não é simples de entender; não temos conhecimento dele: temos apenas uma pequena parcela de conhecimento, e nossa visão é sempre limitada, condicionada e, provavelmente, errada. Minha visão do mundo é aquilo que eu consigo perceber.






Eu, Álison

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Como elas são

"Vejo as coisas como elas são e você, insignificante que é, as vê apenas como elas poderiam ser. Nunca alcançará a grandeza. Enquanto eu... Já a alcancei".







Eu, Álison