Nós não temos, por exemplo, os olhos como os têm a águia e o falcão. Nós vivemos dentro de uma possibilidade de ver, que é nossa, e nem ver, supondo que os nossos olhos são olhos sãos, normais, e nem ver nem de menos, nem demais. E para tornar isto claro, eu digo que, se o Romeu da história tivesse os olhos de um falcão provavelmente não se apaixonaria por Julieta, porque os olhos dele veriam uma pele que, enfim, veriam uma pele que provavelmente não seria agradável de ver. Porque a acuidade visual do falcão, cujos olhos o Romeu teria, não mostraria a pele humana tal como nós a vemos. - José Saramago
A realidade real não existe, na verdade. É sempre um olhar, é sempre um olhar condicionado. Cada experiência de olhar é um limite. A gente não conhece as coisas como elas são, mas só mediado pela nossa experiência. - Paulo Cezar Lopes
Portanto, saber o que é realidade... Bom, se eu acreditar que Deus fez os meus olhos para que eu visse a realidade tal como ela é, então estou bem, mas como nós sabemos que não é assim, então não vale a pena estarmos a perder tempo com isso. - José Saramago
Se o olho é a janela da alma, então você tem que olhar por essa janela com outro olho, e esse outro olho também é a janela da alma. Você tem que olhar por essa janela com outro olho. Quer dizer, a janela não olha. Quem olha é um olho através da janela. Num certo sentido, é uma metáfora complicada que leva a um tipo de coisa que não resolve o problema real de explicar o que é a visão, porque... Você vai ao infinito com essa história da janela da alma, entende? E nunca chega, na verdade, à própria alma. - Antônio Cícero
Mas vocês não são videntes clássicos, vocês são cegos, porque, atualmente, vivemos em um mundo que perdeu a visão. A televisão nos propõe imagens prontas e não sabemos mais vê-las, não vemos mais nada porque perdemos o olhar interior, perdemos o distanciamento. Em outras palavras, vivemos em uma espécie de cegueira generalizada. Eu também tenho uma pequena televisão e assisto-a sem enxergar. Mas há tantos clichês que não é preciso que eu veja fisicamente para entender o que está sendo mostrado.
Já era cego quando tirei minhas primeiras fotos, no colégio. Na época, minha irmã tinha comprado uma Zork 6, uma máquina russa. Ela me emprestou a máquina, e tirei algumas fotos de colegas na escola. Depois, levei a um fotógrafo, que já morreu. Ele o revelou e aconteceu um milagre: lá estavam as imagens. Fiquei chocado e surpreso. Disse a mim mesmo: "Não vejo as imagens, contudo sou capaz de fazê-las". Essa é minha sobrinha Verônica, a quem fotografei em um campo que vira há muito tempo. Pedi a ela que dançasse e corresse. Ela usava um sininho que eu escutava. Na verdade, fotografei o sininho, mas este não pode ser visto. Trata-se, então, de uma fotografia do invisível.
Às vezes percebo por mim mesmo, ou escuto e oriento a máquina em direção à voz. Às vezes alguém me conta. Às vezes são os livros que me contam. Às vezes é meu coração que me conta. Às vezes apaixono-me por uma paisagem ou por uma mulher e tento torná-la mortal, pois minhas fotos são bíblicas. Se faço nus de mulheres, faço-o por razões bíblicas, pois quando Adão e Eva se deram conta de que estavam nus compreenderam também que haviam se tornado mortais. Eis porque fotografo a mortalidade das mulheres. É um pouco trágico, mas é belo ao mesmo tempo. É preciso dar-se conta da mortalidade das mulheres para amá-las mais ao longo da vida e do tempo.
Atualmente eu prefiro olhar ao vivo. Isso é muito importante. Não devemos falar a língua dos outros, nem utilizar o olhar dos outros, porque neste caso existimos através do outro. É preciso tentar existir por si mesmo. - Eugen Bavcar
Eu, Álison
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