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sábado, 18 de janeiro de 2014

Está tudo acabado

Dizem que a obra do grande artista mistura-se com a sua vida, e vice-versa. Com Edgar Allan Poe esta máxima aplica-se perfeitamente. Apesar de ter escrito para as massa, como forma de ganhar a vida, ficou conhecido por produzir obras cheias de morte, medo e dor. Influenciou artistas como Machado de Assis, Fernando Pessoa, Franz Kafka, e outros.

Nascido em Boston, no dia 19 de janeiro de 1809, ficou órfão aos 2 anos. Apesar de algum reconhecimento, foi um completo fracasso em vida como homem e artista.
Em 1835, casou-se com sua prima, Virginia Clemm. Para muitos, o grande amor de sua vida. Em meio à grandes dificuldades econômicas, mudou-se constantemente de cidade, sempre com empregos mal remunerados. No ano de 1845, publicou sua obra mais famosa, O Corvo. Mas ele mesmo, certa vez, havia dito que a maldição era um cão negro seguindo a sua vida, pois em 1847 sua amada Virginia tossiu sangue pela primeira vez.
Era o fantasma da tuberculose pairando sobre sua felicidade. Nos meses seguintes, ela havia apresentado melhoras. Esperança que serviu apenas para acentuar a dor vindoura. Já que no fim daquele mesmo ano, as tosses com sangue voltaram mais intensas, junto com o fogo da febre. Ela viria a morrer pouco tempo depois, em presença do poeta que assistia a tudo impotente. A partir daí, mergulhou numa existência cada vez mais sombria.

Os dois últimos anos de sua vida estão encobertos por uma névoa de mistério. Mas sabe-se que planejava-se casar novamente em 1849. Com esse propósito, ele viajou para Baltimore no dia 27 de setembro de 1849. Depois de jantar com amigos, partiu às 4 horas da manhã, já que planejava uma viajem rápida. Nunca chegou ao seu destino.
Em 03 de outubro de 1849, Edgar Allan Poe foi encontrado em estado de delírio, com roupas que não eram suas, caído nas calçadas da cidade, por um homem que escreveu para um amigo dele. Na carta, ele diz que encontrou um mendigo que responde por Allan Poe e alega conhecer o destinatário da carta. Pede desesperadamente a presença do mesmo, pois o estado de saúde dele era grave. Esse amigo o havia levado à um hospital, no qual faleceria em 07 de outubro de 1849.

Durante os 4 dias de internação, Edgar Allan Poe não conseguiu pronunciar um discurso coerente sobre o que havia lhe ocorrido. Chama constantemente por alguém com o nome de Reynolds. Suas últimas palavras foram: “Está tudo acabado: escrevam Eddy já não existe”. A causa da morte nunca foi precisamente apurada. Nem quem era o homem chamado Reynalds.






Eu, Álison

terça-feira, 10 de setembro de 2013

As almas sensíveis

Por consequência, considerando o belo como o meu terreno próprio, perguntei-me: “Qual é o tom para a sua manifestação mais alta?”. Este seria o tema de minha seguinte meditação, e toda a experiência humana nos leva a crer que esse tom é o da tristeza. Qualquer que seja seu parentesco, a beleza, em seu desenvolvimento supremo, induz às lágrimas, inevitavelmente, as almas sensíveis. Assim, a melancolia é o mais idôneo dos tons poéticos.

Edgar Allan Poe







Eu, Álison

sábado, 24 de agosto de 2013

Reclinar-se-á nunca mais

Encontrei uma versão do poema "O Corvo", do Edgar Allan Poe diferente da que eu postei muito tempo atrás. Aliás, esse poema foi o primeiro post do blog (O Corvo - Edgar Allan Poe (Versão de Os Simpsons)). Conheci ele olhando Os Simpsons. Essa tradução é do Fernando Pessoa e é um pouco mais complicada, mas ainda sim acho muito legal. De gênio.

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais." Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais! Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais". E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais. A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais. Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais." Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais. E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais". Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais". Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais". A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais". Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais". Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais! Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais". "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais". "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais". "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais". E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!





Eu, Álison

sábado, 8 de junho de 2013

Abandonei-me ao desespero

E esse desejo ardente insondável que tem a alma de se torturar a si mesma - de violentar a sua própria natureza - de praticar o mal por amor do mal - que me impeliu a continuar e finalmente a consumar a injúria que tinha infligido ao inocente bruto. Uma manhã, a sangue frio, passei um laço pelo seu pescoço e enforquei-o no ramo de uma árvore. Enforquei-o com as lágrimas a saltarem-me dos olhos e o mais amargo remorso no coração.
[...]
Pegando num machado e esquecendo na minha fúria o meu medo pueril que até aí havia sustido a minha mão, lancei ao animal um golpe que teria sido mortal se o atingisse, mas a mão da minha mulher interpôs-se. Esta intervenção espicaçou a minha raiva até torná-la demoníaca. Soltei o braço e enterrei-lhe o machado no crânio. A minha mulher caiu morta no chão, sem soltar sequer um gemido.
[...]
Um gemido, a princípio surdo e quebrado como os soluços de uma criança, que rapidamente se transformou num grito longo, alto e contínuo, completamente anormal e inumano - um uivo - um berro crescente, misto de horror e de triunfo, como só poderia ser soltado no Inferno pelas gargantas dos condenados na agonia e dos demônios que exultam a danação.

Retirado de 'O Gato Preto', de Edgar Allan Poe.







Eu, Álison

sábado, 18 de maio de 2013

E assim foi escrito

Vou morrer hoje. Um buraco de terra granulada me aguarda. Um final justo para um homem consumido pela morte a vida inteira. Aceite esse beijo na testa.


Não sei, fiquei meio louco.

- Senhor, é Edgar Poe, não é verdade?
- Sou... Por mais alguns minutos... Senhor ajude minha pobre alma.

Aceite este beijo na testa.
e, partindo de ti agora,
muito a dizer nesta franca hora
Você não está errado, quem diria
que meus sonhos têm sido o dia;
Ainda se a esperança fosse um açoite
em um dia, ou numa noite,
numa visão, ou em ninguém
É isso então o que está aquém?
Tudo o que vejo, tudo o que suponho
É só um sonho dentro de um sonho.

As ondas quebram e fico ao meio
de uma praia atormentada
e eu seguro em minhas mãos
uns grãos de areia dourada -
Quão poucos! E como se vão
Pelos meus dedos para o nada,
enquanto eu choro, enquanto eu choro!
Ó Deus! Eu Vos imploro:
Não posso mantê-los em minha teia?
Ó Deus! Posso eu proteger
das duras ondas um grão de areia?
Será que tudo o que vejo e suponho
É só um sonho dentro de um sonho?






Eu, Álison

domingo, 31 de março de 2013

sexta-feira, 8 de março de 2013

Quem não sabe tocar o intangível

Não é poeta. Ando com os nervos à flor da pele, mas por que insistis que sou louco?

Fiel a si mesmo, Poe existiu em desacordo social. No senso da arte, avançou a ponto de provocar a contestação que hoje ainda, cá e ali, comicamente se repete. Mas ele não tinha mesmo uma impressão otimista sobre os homens. Por ver a verdade nos sonhos, imaginava de antemão não poder transformar a vida cotidiana para melhor. Segundo Poe, o ser humano, ao contrário do estabelecido por Jean-Jacques Rousseau, nasce marcado pelo mal.


"Será sempre difícil exercer, de forma ao mesmo tempo nobre e frutífera, a condição do homem de letras sem se expor à difamação, à calúnia dos impotentes, à inveja dos ricos - inveja que é o castigo deles! -, às vinganças de mediocridade burguesa" escreveu Baudelaire.
Para Poe, e também para Baudelaire, um conceito como beleza ainda fazia um sentido literário. Não a beleza ligada à versificação, à idealização da natureza, ao encanto dos sentimentos, mas uma beleza visceral, algo ultrajante, fabricada pelo sangue.

"Muitas pessoas já me caracterizaram como louco. Resta saber se a loucura não representa, talvez, a forma mais elevada de inteligência". - Edgar Allan Poe.






Eu, Álison

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Charles Darwin

O ano de 1809 foi pródigo na sua chuva meteórica de gênios. Só nesse ano a humanidade recebeu no seu regaço uma abada inteira de grandes vultos – Darwin, Lincoln, Chopin, Mendelssohn, Poe.
Charles Darwin foi um menino dócil, meditativo e observador penetrante de tudo que o rodeava. Desde a primeira infância adquiriu o habito de observar as coisas por si mesmo.
Organizou um laboratório secreto no jardim da casa e deu de fazer experiências químicas e físicas.
E quanto às lições da matéria médica, achava-as “algo medonho de escutar-se”. Ademais o seu temperamento passivo não lhe permitia suportar as demonstrações cirúrgicas. Um dia, quando se realizava uma operação em uma criança, ele abandonou precipitadamente o anfiteatro. Nesse tempo ainda se operava sem anestesia, e os gritos da criança excruciada perseguiram-no por muitos anos.
Para ele o mundo inteiro era um grande ponto de interrogação. E possuía uma coisa preciosa, ainda maior que a paixão pela ciência – o amor aos seus semelhantes. O barbarismo da escravatura repugnava-lhe extremamente. A vida inteira, Charles Darwin conservou o coração aberto aos sofrimentos dos homens. E o seu coração sensível e olhos argutos estavam alojados num corpo débil.
A primeira impressão foi “um verdadeiro furacão de encanto e assombro”. Mas o seu gênio o levara a fazer uma grande descoberta e a honestidade não lhe permitiria descansar enquanto não desse a conhecer essa descoberta ao mundo.
“Que cada homem espere e creia o que puder”.
A vida de Darwin foi talvez e melhor prova da sua teoria da evolução. Sua capacidade para o amor parecia aumentar de ano em ano. Sentia-se atraído pelas pessoas, que por sua vez eram atraídas para ele. Quanto aos amigos íntimos, encontravam em seu caráter meigo uma “benção perpétua”. Pois a amizade, para Darwin, era a maior de todas as bênçãos concedidas à raça humana. “Falem-me de fama, honra, prazer, riqueza”, escreveu em uma de suas cartas; “tudo isso é pó, em comparação com o sentimento da amizade”.
Tocava-lhes as pétalas delicadamente, com o infinito amor de um sábio e a admiração ingênua de uma criança.
O senso de respeito – isto é, o hábito da consideração pelos sentimentos dos outros – era um traço predominante do caráter de Darwin.
“Darwin provou que Deus não existe, é verdade”, disse ela. “Mas Deus é tão bom que há de perdoá-lo”.






Eu, Álison

domingo, 17 de junho de 2012

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Corvo - Edgar Allan Poe (Versão de Os Simpsons)

Era uma vez eu refletia, à meia-noite erma e sombria, a ler doutrinas de outro tempo em curiosos manuais, e exausto quase adormecido, ouvi de súbito, tal qual se houvesse alguém batido em meus umbrais. – É um visitante que vem bater em meus umbrais, é só isso e nada mais.
Ah! Claramente eu relembro! Era no gélido dezembro e o fogo agônico pintava o chão de sombras espectrais. Ansiando ver a noite finda, em vão a ler buscava ainda algum remédio a amarga infinda, atroz saudade de Lenora. Essa mais bela que a aurora, a quem
os céus chamam Lenora e nome aqui já não tem mais.
A seda rubra da cortina arfava em lúgubre sur
dina, arrepiando-me e evocando medos sepulcrais. Que de susto o coração batia e a sossegá-lo eu repetia: – É um visitante que pede abrigo e bate em meus umbrais, apenas isso e nada mais.
No momento em que me senti forte, sem hesitar lancei a sorte. – Senhor – disse eu – ou então senhora, perdoai-me se muito me esperais, mais é qu
e eu estava adormecido e foi tão débil o batido que mal podia ter ouvido alguém bater em meus portais assim de leve a horas tais. Escancarei então a porta. Escuridão e nada mais.
Alma febril, eu novamente entrei no quarto e de repente o ruído recomeça e ressoa em meus vitrais. – Com certeza – disse eu – com certeza é na janela, vamos ver o que esta nela e ao mistério dar finais. Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto. É um c
orvo hierático e soberbo, egresso entre eras ancestrais. Como fidalgo passa augusto, e sem notar sequer meu susto, adeja e pousa sobre o busto que se encontra em meus umbrais, bem sobre o pórtico e lá se instala sobre a cabeça de Palas que se encontra em meus umbrais, empoleirado e nada mais.
– Sem crista embora digo – ao corvo – não tens pavor antigo e singular amigo que na noite me pede abrigo, diga-me qual é teu nome ó nobre corvo, o nome teu no inferno torvo.
E o corvo disse: – Nunca mais.
O ar pereceu-me então mais denso e perfumado qual s
e incenso, ali descessem a espargir turibulários celestiais. – Mísero! – exclamo – enfim teu Deus me dá, mandando anjos seus a esquecimento para a saudades de Lenora. Sorve o nepentes. Sorve-o, a glória, esquece olvida essa Lenora!
E o corvo disse: – Nunca Mais.
– Sejam palavras da nossa despedida ave de agouro – ergo-me e grito – volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais! Nem leve pluma de ti reste, que tal mentira ateste, deixa-me só neste ermo agreste, sai do busto em meus portais, retira o bico que me fere o peito
, alça voo e deixa meus umbrais.
E o corvo disse: – Nunca mais.
Retira o bico que me fere o peito, alça voo e deixa meus u
mbrais.
E o corvo disse: – Nunca mais.
E lá ficou, hirto e sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio. Sobre o busto pálido de Palas, inerte, sempre em meus umbrais. No seu olhar medonho e enorme, um anjo do mal, e
m sonhos dorme e a luz da lâmpada disforme atira ao chão suas sombras imortais, nelas que ondulam sobre a alfombra, está minha alma e presa á sombra não há de erguer-se nunca mais!


 Edgar Allan Poe






Eu, Álison