Eu, Álison
Mostrando postagens com marcador terror. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador terror. Mostrar todas as postagens
sábado, 7 de dezembro de 2013
Sem alma
Dany lembrava-se da palavra de uma história aterrorizadora que Jhiqui lhe contara uma noite junto à fogueira. Uma maegi era uma mulher que dormia com demônios e praticava a mais negra das feitiçarias, uma coisa vil, maldosa e sem alma, que vinha até os homens no escuro da noite e sugava a vida e a força de seus corpos.
Eu, Álison
Eu, Álison
domingo, 15 de setembro de 2013
Agora é tarde demais
O mesmo ocorreu quando, mais tarde, eles encontraram outros velhos companheiros que haviam penetrado naquela zona de horror. A maioria deles havia perdido ou conquistado algo imponderável e indescritível. Haviam visto, ouvido ou sentido algo que não era para criaturas humanas e jamais poderiam esquecer. Deles jamais partiu um comentário, pois mesmo para o mais comum dos instintos mortais existem limites terríveis.
Aquele espírito misterioso que se insinuou por uma fenda da porta proibida e teve um rápido vislumbre das terríveis visões do vazio além.
Aquele espírito misterioso que se insinuou por uma fenda da porta proibida e teve um rápido vislumbre das terríveis visões do vazio além.
Eu, Álison
sábado, 24 de agosto de 2013
Reclinar-se-á nunca mais
Encontrei uma versão do poema "O Corvo", do Edgar Allan Poe diferente da que eu postei muito tempo atrás. Aliás, esse poema foi o primeiro post do blog (O Corvo - Edgar Allan Poe (Versão de Os Simpsons)). Conheci ele olhando Os Simpsons. Essa tradução é do Fernando Pessoa e é um pouco mais complicada, mas ainda sim acho muito legal. De gênio.
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais." Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais! Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais". E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais. A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais. Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais." Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais. E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais". Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais". Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais". A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais". Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais". Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais! Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais". "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais". "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais". "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais". E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais." Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais! Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais". E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais. A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais. Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais." Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais. E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais". Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais". Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais". A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais". Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais". Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais! Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais". "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais". "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais". "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais". E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
Eu, Álison
Marcadores:
demônio,
diabo,
edgar allan poe,
fernando pessoa,
madrugada,
maldito,
o corvo,
pensamento,
simpsons,
sofrimento,
terror,
trevas,
tristeza
sábado, 8 de junho de 2013
Abandonei-me ao desespero
E esse desejo ardente insondável que tem a alma de se torturar a si mesma - de violentar a sua própria natureza - de praticar o mal por amor do mal - que me impeliu a continuar e finalmente a consumar a injúria que tinha infligido ao inocente bruto. Uma manhã, a sangue frio, passei um laço pelo seu pescoço e enforquei-o no ramo de uma árvore. Enforquei-o com as lágrimas a saltarem-me dos olhos e o mais amargo remorso no coração.
[...]
Pegando num machado e esquecendo na minha fúria o meu medo pueril que até aí havia sustido a minha mão, lancei ao animal um golpe que teria sido mortal se o atingisse, mas a mão da minha mulher interpôs-se. Esta intervenção espicaçou a minha raiva até torná-la demoníaca. Soltei o braço e enterrei-lhe o machado no crânio. A minha mulher caiu morta no chão, sem soltar sequer um gemido.
[...]
Um gemido, a princípio surdo e quebrado como os soluços de uma criança, que rapidamente se transformou num grito longo, alto e contínuo, completamente anormal e inumano - um uivo - um berro crescente, misto de horror e de triunfo, como só poderia ser soltado no Inferno pelas gargantas dos condenados na agonia e dos demônios que exultam a danação.
Retirado de 'O Gato Preto', de Edgar Allan Poe.
Eu, Álison
domingo, 26 de maio de 2013
Trágico fim
Aos poucos a gente vai se cansando. Tem vezes que nós sentimos um vazio aterrorizante.
Até a hora em que você desiste de tudo e dá um fim ao sofrimento.
O problema de você não conhecer as pessoas é que você não sabe o que se passa por trás do sorriso que você está vendo. E, às vezes, isso custa caro. Custa uma vida.
Até a hora em que você desiste de tudo e dá um fim ao sofrimento.
O problema de você não conhecer as pessoas é que você não sabe o que se passa por trás do sorriso que você está vendo. E, às vezes, isso custa caro. Custa uma vida.
Eu, Álison
quinta-feira, 25 de abril de 2013
O meu vermelho
As janelas da alma - se é que tinha uma - eram demasiadamente medonhas para pertencerem a uma pessoa comum. Onde normalmente era encontrado um belo par de íris brilhantes, via-se como que duas esferas de vidro. Um olhar frio e macabro, diferente de tudo que já tinha visto.
De susto, o coração batia, descompassado e nervoso. O relógio, marcador ininterrupto do tempo, como se também estivesse com medo da criatura presente, parou, acabando com o único ruído que impedia que o silêncio caísse sobre meus ombros. Consigo trouxe uma sensação terrível. Aquele era o silêncio do medo. Apesar de permanecer imóvel na porta, seu rosto expressava uma parte ínfima de quanto sua mente poderia ser doentia. Nunca a presença de um estranho me perturbou tanto quanto neste momento, que parecia perpétuo devido ao que aqueles olhos me faziam sentir. Eles confrangiam meu íntimo e torciam-me de dores, apesar de não mover-me um centímetro sequer. Não tentei movimentar nem ao menos um dedo, pois minha angústia só aumentaria ao constatar o que já sabia: estava totalmente paralisado.
Dentre todos os seres humanos, o mais corajoso se renderia diante da imagem transtornada que tinha perante mim. Algo que não sei o que era. Um ente que poderia ser considerado ser, mas dificilmente, acreditava eu, um humano. Se soubesse o que ele iria fazer, não teria dúvida quanto a isso.
Desde que havia aberto a porta, observava com meus olhos aquela situação. Ele, parado, devido a sua estranha natureza. Eu, num pânico constante, mal respirava, fôlego frágil. O estranho que me olhava abrira a porta com as mãos limpas. A esquerda, mais gélida, pois tocara o metal da maçaneta. Como que hipnotizando-me, ele, num estante, aproximou-se de mim e eu, sem reação, estarrecido perante tal, não consegui mover-me. Senti sua mão fria no meu pescoço, mas não imaginei o que ele poderia fazer. O medo corria em minhas veias. Infelizmente, para mim, suas mãos não permaneceram limpas por muito tempo. Foram coloridas por um tétrico vermelho. O meu vermelho...
De susto, o coração batia, descompassado e nervoso. O relógio, marcador ininterrupto do tempo, como se também estivesse com medo da criatura presente, parou, acabando com o único ruído que impedia que o silêncio caísse sobre meus ombros. Consigo trouxe uma sensação terrível. Aquele era o silêncio do medo. Apesar de permanecer imóvel na porta, seu rosto expressava uma parte ínfima de quanto sua mente poderia ser doentia. Nunca a presença de um estranho me perturbou tanto quanto neste momento, que parecia perpétuo devido ao que aqueles olhos me faziam sentir. Eles confrangiam meu íntimo e torciam-me de dores, apesar de não mover-me um centímetro sequer. Não tentei movimentar nem ao menos um dedo, pois minha angústia só aumentaria ao constatar o que já sabia: estava totalmente paralisado.
Dentre todos os seres humanos, o mais corajoso se renderia diante da imagem transtornada que tinha perante mim. Algo que não sei o que era. Um ente que poderia ser considerado ser, mas dificilmente, acreditava eu, um humano. Se soubesse o que ele iria fazer, não teria dúvida quanto a isso.
Desde que havia aberto a porta, observava com meus olhos aquela situação. Ele, parado, devido a sua estranha natureza. Eu, num pânico constante, mal respirava, fôlego frágil. O estranho que me olhava abrira a porta com as mãos limpas. A esquerda, mais gélida, pois tocara o metal da maçaneta. Como que hipnotizando-me, ele, num estante, aproximou-se de mim e eu, sem reação, estarrecido perante tal, não consegui mover-me. Senti sua mão fria no meu pescoço, mas não imaginei o que ele poderia fazer. O medo corria em minhas veias. Infelizmente, para mim, suas mãos não permaneceram limpas por muito tempo. Foram coloridas por um tétrico vermelho. O meu vermelho...
Eu, Álison
domingo, 31 de março de 2013
sexta-feira, 8 de março de 2013
Quem não sabe tocar o intangível
Não é poeta. Ando com os nervos à flor da pele, mas por que insistis que sou louco?
Fiel a si mesmo, Poe existiu em desacordo social. No senso da arte, avançou a ponto de provocar a contestação que hoje ainda, cá e ali, comicamente se repete. Mas ele não tinha mesmo uma impressão otimista sobre os homens. Por ver a verdade nos sonhos, imaginava de antemão não poder transformar a vida cotidiana para melhor. Segundo Poe, o ser humano, ao contrário do estabelecido por Jean-Jacques Rousseau, nasce marcado pelo mal.
"Será sempre difícil exercer, de forma ao mesmo tempo nobre e frutífera, a condição do homem de letras sem se expor à difamação, à calúnia dos impotentes, à inveja dos ricos - inveja que é o castigo deles! -, às vinganças de mediocridade burguesa" escreveu Baudelaire.
Para Poe, e também para Baudelaire, um conceito como beleza ainda fazia um sentido literário. Não a beleza ligada à versificação, à idealização da natureza, ao encanto dos sentimentos, mas uma beleza visceral, algo ultrajante, fabricada pelo sangue.
"Muitas pessoas já me caracterizaram como louco. Resta saber se a loucura não representa, talvez, a forma mais elevada de inteligência". - Edgar Allan Poe.
Fiel a si mesmo, Poe existiu em desacordo social. No senso da arte, avançou a ponto de provocar a contestação que hoje ainda, cá e ali, comicamente se repete. Mas ele não tinha mesmo uma impressão otimista sobre os homens. Por ver a verdade nos sonhos, imaginava de antemão não poder transformar a vida cotidiana para melhor. Segundo Poe, o ser humano, ao contrário do estabelecido por Jean-Jacques Rousseau, nasce marcado pelo mal.
"Será sempre difícil exercer, de forma ao mesmo tempo nobre e frutífera, a condição do homem de letras sem se expor à difamação, à calúnia dos impotentes, à inveja dos ricos - inveja que é o castigo deles! -, às vinganças de mediocridade burguesa" escreveu Baudelaire.
Para Poe, e também para Baudelaire, um conceito como beleza ainda fazia um sentido literário. Não a beleza ligada à versificação, à idealização da natureza, ao encanto dos sentimentos, mas uma beleza visceral, algo ultrajante, fabricada pelo sangue.
"Muitas pessoas já me caracterizaram como louco. Resta saber se a loucura não representa, talvez, a forma mais elevada de inteligência". - Edgar Allan Poe.
Eu, Álison
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
A si próprio
Este bilhete deve ser fácil de entender.
Minha culpa por isso é indescritível em palavras.
Devo ser um daqueles narcisistas que só dão valor às coisas depois que elas se vão. Eu sou sensível demais.
[...] Mas ainda não consigo superar a frustração, a culpa e a empatia que tenho por todos. Existe o bom em todos nós e acho que eu simplesmente amo as pessoas demais, tanto que chego a me sentir mal.
Isto me aterroriza a ponto de eu mal conseguir funcionar.
Eu tive muito, muito mesmo, e sou grato por isso, mas desde os sete anos de idade passei a ter ódio de todos os humanos em geral. Apenas porque parece muito fácil se relacionar e ter empatia. Apenas porque eu amo e sinto demais por todas as pessoas, eu acho.
Obrigado do fundo de meu nauseado estômago queimando por suas cartas e sua preocupação ao longo dos anos. Eu sou mesmo um bebê errático e triste! Não tenho mais paixão, então lembrem, é melhor queimar do que se apagar aos poucos. Paz, Amor, Empatia.
Pela vida dela, que vai ser tão mais feliz sem mim.
Esses são trechos da carta que Kurt Cobain deixou antes de cometer suicídio em 1994. Não sou sádico nem me orgulho por postar isso, como você pode pensar. Apenas acho que lendo textos assim você pode perceber o real tamanho dos seus problemas, que não são nada comparados aos das pessoas que se matam. Você aprende que deve dar mais valor a sua vida e agradecer por não ter o mesmo fim.
Então na próxima vez que pensar em reclamar da sua vida, pense que existem pessoas que não estão mais vivas para poder reclamar.
"... às vezes você apenas não pode salvar alguém de si".
Minha culpa por isso é indescritível em palavras.
Devo ser um daqueles narcisistas que só dão valor às coisas depois que elas se vão. Eu sou sensível demais.
[...] Mas ainda não consigo superar a frustração, a culpa e a empatia que tenho por todos. Existe o bom em todos nós e acho que eu simplesmente amo as pessoas demais, tanto que chego a me sentir mal.
Isto me aterroriza a ponto de eu mal conseguir funcionar.
Eu tive muito, muito mesmo, e sou grato por isso, mas desde os sete anos de idade passei a ter ódio de todos os humanos em geral. Apenas porque parece muito fácil se relacionar e ter empatia. Apenas porque eu amo e sinto demais por todas as pessoas, eu acho.
Obrigado do fundo de meu nauseado estômago queimando por suas cartas e sua preocupação ao longo dos anos. Eu sou mesmo um bebê errático e triste! Não tenho mais paixão, então lembrem, é melhor queimar do que se apagar aos poucos. Paz, Amor, Empatia.
Pela vida dela, que vai ser tão mais feliz sem mim.
Esses são trechos da carta que Kurt Cobain deixou antes de cometer suicídio em 1994. Não sou sádico nem me orgulho por postar isso, como você pode pensar. Apenas acho que lendo textos assim você pode perceber o real tamanho dos seus problemas, que não são nada comparados aos das pessoas que se matam. Você aprende que deve dar mais valor a sua vida e agradecer por não ter o mesmo fim.
Então na próxima vez que pensar em reclamar da sua vida, pense que existem pessoas que não estão mais vivas para poder reclamar.
"... às vezes você apenas não pode salvar alguém de si".
Eu, Álison
sexta-feira, 13 de maio de 2011
O Corvo - Edgar Allan Poe (Versão de Os Simpsons)
Era uma vez eu refletia, à meia-noite erma e sombria, a ler doutrinas de outro tempo em curiosos manuais, e exausto quase adormecido, ouvi de súbito, tal qual se houvesse alguém batido em meus umbrais. – É um visitante que vem bater em meus umbrais, é só isso e nada mais.
Ah! Claramente eu relembro! Era no gélido dezembro e o fogo agônico pintava o chão de sombras espectrais. Ansiando ver a noite finda, em vão a ler buscava ainda algum remédio a amarga infinda, atroz saudade de Lenora. Essa mais bela que a aurora, a quem os céus chamam Lenora e nome aqui já não tem mais.
A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina, arrepiando-me e evocando medos sepulcrais. Que de susto o coração batia e a sossegá-lo eu repetia: – É um visitante que pede abrigo e bate em meus umbrais, apenas isso e nada mais.
No momento em que me senti forte, sem hesitar lancei a sorte. – Senhor – disse eu – ou então senhora, perdoai-me se muito me esperais, mais é que eu estava adormecido e foi tão débil o batido que mal podia ter ouvido alguém bater em meus portais assim de leve a horas tais. Escancarei então a porta. Escuridão e nada mais.
Alma febril, eu novamente entrei no quarto e de repente o ruído recomeça e ressoa em meus vitrais. – Com certeza – disse eu – com certeza é na janela, vamos ver o que esta nela e ao mistério dar finais. Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto. É um corvo hierático e soberbo, egresso entre eras ancestrais. Como fidalgo passa augusto, e sem notar sequer meu susto, adeja e pousa sobre o busto que se encontra em meus umbrais, bem sobre o pórtico e lá se instala sobre a cabeça de Palas que se encontra em meus umbrais, empoleirado e nada mais.
Ah! Claramente eu relembro! Era no gélido dezembro e o fogo agônico pintava o chão de sombras espectrais. Ansiando ver a noite finda, em vão a ler buscava ainda algum remédio a amarga infinda, atroz saudade de Lenora. Essa mais bela que a aurora, a quem os céus chamam Lenora e nome aqui já não tem mais.
A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina, arrepiando-me e evocando medos sepulcrais. Que de susto o coração batia e a sossegá-lo eu repetia: – É um visitante que pede abrigo e bate em meus umbrais, apenas isso e nada mais.
No momento em que me senti forte, sem hesitar lancei a sorte. – Senhor – disse eu – ou então senhora, perdoai-me se muito me esperais, mais é que eu estava adormecido e foi tão débil o batido que mal podia ter ouvido alguém bater em meus portais assim de leve a horas tais. Escancarei então a porta. Escuridão e nada mais.
Alma febril, eu novamente entrei no quarto e de repente o ruído recomeça e ressoa em meus vitrais. – Com certeza – disse eu – com certeza é na janela, vamos ver o que esta nela e ao mistério dar finais. Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto. É um corvo hierático e soberbo, egresso entre eras ancestrais. Como fidalgo passa augusto, e sem notar sequer meu susto, adeja e pousa sobre o busto que se encontra em meus umbrais, bem sobre o pórtico e lá se instala sobre a cabeça de Palas que se encontra em meus umbrais, empoleirado e nada mais.
– Sem crista embora digo – ao corvo – não tens pavor antigo e singular amigo que na noite me pede abrigo, diga-me qual é teu nome ó nobre corvo, o nome teu no inferno torvo.
E o corvo disse: – Nunca mais.
O ar pereceu-me então mais denso e perfumado qual se incenso, ali descessem a espargir turibulários celestiais. – Mísero! – exclamo – enfim teu Deus me dá, mandando anjos seus a esquecimento para a saudades de Lenora. Sorve o nepentes. Sorve-o, a glória, esquece olvida essa Lenora!
E o corvo disse: – Nunca Mais.
– Sejam palavras da nossa despedida ave de agouro – ergo-me e grito – volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais! Nem leve pluma de ti reste, que tal mentira ateste, deixa-me só neste ermo agreste, sai do busto em meus portais, retira o bico que me fere o peito, alça voo e deixa meus umbrais.
E o corvo disse: – Nunca mais.
Retira o bico que me fere o peito, alça voo e deixa meus umbrais.
E o corvo disse: – Nunca mais.
E lá ficou, hirto e sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio. Sobre o busto pálido de Palas, inerte, sempre em meus umbrais. No seu olhar medonho e enorme, um anjo do mal, em sonhos dorme e a luz da lâmpada disforme atira ao chão suas sombras imortais, nelas que ondulam sobre a alfombra, está minha alma e presa á sombra não há de erguer-se nunca mais!
E o corvo disse: – Nunca mais.
O ar pereceu-me então mais denso e perfumado qual se incenso, ali descessem a espargir turibulários celestiais. – Mísero! – exclamo – enfim teu Deus me dá, mandando anjos seus a esquecimento para a saudades de Lenora. Sorve o nepentes. Sorve-o, a glória, esquece olvida essa Lenora!
E o corvo disse: – Nunca Mais.
– Sejam palavras da nossa despedida ave de agouro – ergo-me e grito – volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais! Nem leve pluma de ti reste, que tal mentira ateste, deixa-me só neste ermo agreste, sai do busto em meus portais, retira o bico que me fere o peito, alça voo e deixa meus umbrais.
E o corvo disse: – Nunca mais.
Retira o bico que me fere o peito, alça voo e deixa meus umbrais.
E o corvo disse: – Nunca mais.
E lá ficou, hirto e sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio. Sobre o busto pálido de Palas, inerte, sempre em meus umbrais. No seu olhar medonho e enorme, um anjo do mal, em sonhos dorme e a luz da lâmpada disforme atira ao chão suas sombras imortais, nelas que ondulam sobre a alfombra, está minha alma e presa á sombra não há de erguer-se nunca mais!
Assinar:
Postagens (Atom)