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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Charles Darwin

O ano de 1809 foi pródigo na sua chuva meteórica de gênios. Só nesse ano a humanidade recebeu no seu regaço uma abada inteira de grandes vultos – Darwin, Lincoln, Chopin, Mendelssohn, Poe.
Charles Darwin foi um menino dócil, meditativo e observador penetrante de tudo que o rodeava. Desde a primeira infância adquiriu o habito de observar as coisas por si mesmo.
Organizou um laboratório secreto no jardim da casa e deu de fazer experiências químicas e físicas.
E quanto às lições da matéria médica, achava-as “algo medonho de escutar-se”. Ademais o seu temperamento passivo não lhe permitia suportar as demonstrações cirúrgicas. Um dia, quando se realizava uma operação em uma criança, ele abandonou precipitadamente o anfiteatro. Nesse tempo ainda se operava sem anestesia, e os gritos da criança excruciada perseguiram-no por muitos anos.
Para ele o mundo inteiro era um grande ponto de interrogação. E possuía uma coisa preciosa, ainda maior que a paixão pela ciência – o amor aos seus semelhantes. O barbarismo da escravatura repugnava-lhe extremamente. A vida inteira, Charles Darwin conservou o coração aberto aos sofrimentos dos homens. E o seu coração sensível e olhos argutos estavam alojados num corpo débil.
A primeira impressão foi “um verdadeiro furacão de encanto e assombro”. Mas o seu gênio o levara a fazer uma grande descoberta e a honestidade não lhe permitiria descansar enquanto não desse a conhecer essa descoberta ao mundo.
“Que cada homem espere e creia o que puder”.
A vida de Darwin foi talvez e melhor prova da sua teoria da evolução. Sua capacidade para o amor parecia aumentar de ano em ano. Sentia-se atraído pelas pessoas, que por sua vez eram atraídas para ele. Quanto aos amigos íntimos, encontravam em seu caráter meigo uma “benção perpétua”. Pois a amizade, para Darwin, era a maior de todas as bênçãos concedidas à raça humana. “Falem-me de fama, honra, prazer, riqueza”, escreveu em uma de suas cartas; “tudo isso é pó, em comparação com o sentimento da amizade”.
Tocava-lhes as pétalas delicadamente, com o infinito amor de um sábio e a admiração ingênua de uma criança.
O senso de respeito – isto é, o hábito da consideração pelos sentimentos dos outros – era um traço predominante do caráter de Darwin.
“Darwin provou que Deus não existe, é verdade”, disse ela. “Mas Deus é tão bom que há de perdoá-lo”.






Eu, Álison

sábado, 14 de julho de 2012

F. F. Chopin

Era uma "criança aluada, pálida e sentimental", dotada de um instinto musical quase tão agudo quanto o de Mozart e uma predisposição para perturbações pulmonares, indício de morte prematura.
A sua pessoa, como sua música, era um poema elegante, o que representava para ele fonte de grandes satisfações.
A palavra tristeza é, porventura, pesada demais para se aplicar a um rapaz de vinte anos. A tristeza, no entanto, era o talismã a que ele se apegava, desesperado, para subtrair-se às angústias do seu contentamento. Cria fervorosamente na melancolia, aquele feixe de nervos superexcitados e cansados, aquela ruína tuberculosa e maltratada de vinte anos.
A consciência o torturava. O momento era de nervosismo nacional. O povo se esquecera das humanidades, das artes, das ciências, da paz contemplativa e criadora.
Mas nos dias angustiosos, como Dante o observou, não há sofrimento tão amargo quanto a memória das passadas alegrias.
“Aqui estou eu com as mãos vazias, deitando o meu desespero em notas tinintes”.
Volvido algum tempo, abrandou-se-lhe a extrema aflição mental.
No meio dessa sociedade de magníficos sonhadores, artistas que tinham a audácia de olhar para um mundo melhor, caminhava o polonês enfermiço e triste. Sentava-se ao piano e arrebatava-os, a todos, com a sua poesia. Tinha vinte e poucos anos e sentia que ainda lhe faltava muita coisa para aprender no respeitante à sua arte.
Entre os primeiros a reconhecer o gênio de Chopin figura Franz Liszt, o maior pianista do seu tempo. Liszt achava-se presente a um concerto dado a pelo recém chegado a Paris, e, ao lado dele, sentara-se aquele outro músico mágico, Felix Mendelssohn. Quando Chopin principiou a tocar, ambos compreenderam que era Deus quem falava pelos dedos do rapaz.
Diversamente de Liszt, Chopin tinha qualquer coisa de recluso. Aristocrático por instinto, desadorava a humanidade quando representada pelas massas. Temia as multidões.
“Enchia a sombra de um conclave de fadas”.
Instalou-se em luxuoso apartamento e, na sua soledade, aspirava o perfume das violetas.
Para compensar, contudo, a sobriedade obrigatória da existência física, enriquecia sua música com uma incomparável embriaguez psíquica. Com menos de trinta anos, escrevendo exclusivamente para piano, cuspindo sangue dos pulmões devastados, era adorado pela sua música.
E quem poderá escrever música forte quando tem o coração fraco?
“Se me tivesse compreendido, talvez me pudesse ter amado”.
Um dizia que eu havia de morrer, o segundo, que eu estava prestes a morrer, o terceiro, que eu já estava morto.
Embora lhe declinassem rapidamente as energias, a poderosa labareda do gênio senhoreou-se dele e imprimiu-lhe verdadeira fúria criadora. Sentava-se ao piano e embrenhava-se na música. “Ele não sabe sequer em que planeta vive”. Chopin, sepultado na própria música, não atentava em coisa alguma.
Amigos instaram-lhe que escrevesse óperas e sinfonias a fim de “demonstrar o seu talento a um mundo que não se fiava dele”. Ele, porém, encolhia os ombros, a sorrir. “Quem quer que pudesse ler-lhe o rosto veria quão amiúde possuía a convicção de que entre todos os senhores bem vestidos e entre todas as senhoras perfumadas que lhe frequentavam os concertos, não havia uma única pessoa que compreendesse verdadeiramente o seu propósito”.
Sentado em sua cela, Chopin conversava com o seu piano e contemplava o declinar da própria vida.
Cada um de seus dedos “era uma voz delicadamente diferenciada”. Ele sentava-se ao piano e convertia-o em vida.
Não tema os pesares da tristeza. A sua vida dissolvia-se em música.
As luzes estavam apagadas. Chopin arpejava. Tinha lágrimas nos olhos. As notas semelhavam as vergastadas de uma tempestade de neve açoitando o quarto. “Sonhei que você estava morta”.
Despertara o monstro oculto no piano e este lhe atirava setas de melancolia ao coração.
Espalhados em vasos por todos os cantos havia ramos de violetas – suas flores prediletas. Um perfume leve. Música perfumada. Canções crepusculares de fragrante tristeza.
A sua música delicada estremecia ainda como uma chama tocada pelo vento. Música estranha e melancólica, em tons menores, canções do vento e das estrelas e dos mistérios da noite.
Um dia, após o pôr do sol. As suas almas, como a de Chopin, afinar-se-iam com a música da noite. Porque a noite é apenas um prelúdio para outro dia.
“Quando eu tiver ido embora”, - foram estas as suas últimas palavras – “toquem um pouco de música para mim, pois sei que hei de ouvi-los no além”.




Eu, Álison