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domingo, 22 de dezembro de 2013

A loucura me salvou

Tal é a força da escrita: abolir o tempo, suprimir as distâncias, reunir os opostos.

Para Virginia, "escrever é um inferno", e ela não esconde de sua amiga Violet que "às vezes fica horas e horas diante de uma lareira sem fogo, com a cabeça entre as mãos".
De agora em diante, Virginia conhecerá apenas estados paroxísticos, oscilando continuamente entre a exaltação e o desespero. Quando afirma estar feliz, será sempre com "aquela impressão de um meio fio estreito na borda de uma calçada que dá em um precipício". Cada novo livro será um mergulho em águas profundas na qual a romancista não hesitará em colocar sua vida em perigo.
Aquela que escreve em seu Diário "quando escrevo não passo de uma sensibilidade" teme mais do que qualquer pessoa o período que segue a criação propriamente dita.

Entretanto, em 16 de janeiro de 1936, enquanto corrige as provas de Os Anos, encontra-se novamente à beira do precipício aniquilada por um sentimento de fracasso irremediável.

Nunca me senti tão infeliz quanto ontem à noite [...]

Essa mulher tão perfeitamente feliz num dia e tão desesperadamente deprimida no outro conservou um talismã de sua infância que guardará preciosamente durante toda sua vida. Esse, apesar de não a salvar, irá ajudá-la nos momentos mais difíceis.
Os Stephen têm comum o vício impune da leitura. Têm também, como se fosse um gene transmissível, um certo gosto pela escrita.

Durante seus trinta anos de escrita, Virginia conhecerá somente condições estremas, indo da euforia mais comunicativa ao abatimento mais preocupante. Com A Viagem, entra para a literatura e assina um pacto consigo mesmo que lhe parece proibir qualquer forma de acesso à felicidade.

Em maio de 1895, Julia Princep se retira na ponta dos pés do quadro de cores vibrantes da infância. Para a família Stephen, é um verdadeiro terremoto. Para Virginia, menininha de sensibilidade exacerbada, o fim de toda possibilidade de felicidade.

Virginia, por sua vez, observa. Espectadora de um mundo na qual não consegue tomar parte, vive o início de um sentimento de ausência que não a deixará mais.

A jovem Virginia grava tudo sem conseguir se deixar levar por uma emoção cuja violência a aniquilará.

O que a morte de Julia Stephen revela é uma propensão à instabilidade psíquica com a qual Virginia deverá lidar toda sua vida.

Estar louca, Ou, pior ainda, que os outros a achem louca: esse é o pavor dessa mulher que lutará corajosamente toda sua vida contra sintomas que cada um vai querer ligar a um nome. Histeria. Psicose. Depressão.

A morte da qual sou perpetuamente consciente [...] se aproxima tão rápido!

Alguns meses depois de seu casamento, Virginia Woolf fica gravemente doente. Sua recusa em alimentar-se e suas dificuldades de conseguir dormir inquietam os próximos. Chamaram o médico que, entre outras recomendações de praxe, prescreve-lhe  barbitúrico, um sedativo potente. Alguns dias mais tarde, ela força voluntariamente a dose e quase morre.

Virginia sente-se "acorrentada a um rochedo, coagida à inação, condenada a deixar cada preocupação, cada rancor, irritação ou obsessão atacá-la persistentemente com unhas e dentes".
Seu desespero, contido nos primeiros anos, acaba pouco a pouco por explodir.

Em 1922, anota a contragosto em seu Diário:

O único interesse que as pessoas têm por mim como escritora vem, estou começando a me dar conta, de minha personalidade estranha. 

É o preço da glória. O início da lenda. Lenda que não quer ver em Virginia outra coisa além de uma mulher melancólica e suicida. Frágil e cortada do mundo. Fantasiosa e instável.

Longe da agitação da capital, a romancista experimenta com sensualidade as delícias do campo e pode se entregar com toda a tranquilidade à sua ocupação preferida. Ali, tudo é ordem, calma e volúpia.

Leonard, por sua vez, que sempre tem uma inclinação ao pessimismo, torna-se simplesmente lúgubre. "As pessoas continuarão a morrer, e assim até a nossa própria morte", confia à sua mulher.

Por que as depressões crônicas dessa mulher, suas repetidas tentativas de suicídio e seus acessos de demência foram retidos em vez da extraordinária coragem que ela demonstrou para conseguir realizar sua obra, tão rica e complexa, apesar de sua "doença sinistra"? Por que ter destacado sua fragilidade, ao passo que é precisamente sua força que é impressionante? Depois de cada crise, que a deixa num estado extremo de deterioração física e psicológica, Virginia Woolf encontra ainda e sempre a força para comprometer-se novamente com uma nova tarefa.Seja em 1913, quando termina seu primeiro romance, apesar de seu estado de saúde que pede internação. Seja em 1918, quando começa Noite e Dia com o único objetivo de manter a cabeça fora d'água entre dois períodos de imersão na demência. Seja em 1930, quando escreve As Ondas e vê novamente surgir os signos indicadores da depressão. Seja em 1936, quando termina Os Anos e que atravessa uma crise de desespero cuja violência lhe lembra o fim esgotante de A Viagem. De cama, emagrecida, pálida, vítima de alucinações, de dores de cabeças assustadoras, Virginia Woolf persiste.

A escrita é a única saída que essa mulher, que se define como "uma melancólica de nascimento", encontrou para salvar-se. Cada livro é uma vitória sobre a doença. Um combate contra as trevas das quais sai sempre vitoriosa, mas raramente aliviada.
Com Os Anos, os sintomas da depressão vêm à tona novamente. "Escrever é um esforço, escrever é o próprio desespero", anota em seu diário sobre "esse livro interminável".

O mesmo medo de não ser capaz de expressar uma emoção que parece ocultar propositalmente a extensão de sua dor.

Como se o desaparecimento de seu amigo tivesse definitivamente quebrado algo dentro dela.
"Como se nos chocássemos contra um muro. Um tal silêncio. Um tal empobrecimento. Quantas coisas ele irradiava".
"Lutamos todos com os nossos cérebros, nossas paixões e todo o resto, e tudo isso para sermos vencidos", anota em seu Diário em um dia de desespero.

O que resta? Em que se agarrar? Tudo não passa de desolação. Mesmo a escrita do Diário não parece mais oferecer consolo. Em 29 de dezembro de 1940, essa constatação lapidar: "Todo desejo de continuar esse Diário me abandona".
Lytton Strachey, Katherine Mansfield, Roger Fry, todos seus melhores amigos se foram. Apenas Virginia, soldadinho valente, continua lutando com as palavras. Um embate que a cada dia lhe parece mais inútil.

Enquanto tem consciência de estar tomada pela doença, tenta, mais uma vez, para mantê-la longe, examinar a loucura sob o ângulo do estudo. Mas, pela primeira vez, essa vontade que tanto pôs à prova e que lhe permitiu que se mantivesse à beira do abismo, não responde mais. Alguma coisa se rompeu. Definitivamente.

Para Virginia, o pesadelo recomeça. As visões. As alucinações. As eternas recomendações que nunca serviram para nada além de isolá-la um pouco mais nesse mundo opaco e frio no qual ela sente que está sendo inexoravelmente enterrada.
"Lutei tanto quanto pude, mas não consigo mais". Ninguém poderá salvar Virginia Woolf. Pela primeira vez, Leonard chegará tarde demais.

No dia 28 de Março de 1941, após ter um colapso nervoso, Virginia Woolf suicidou-se.




Eu, Álison

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

No vão dos versos que escrevi

Se eu fosse um pássaro,
Tua janela seria minha preferida.
E eu sorriria com teu canto,
A cada manhã florida.

O silêncio sempre foi minha citação favorita.

Eu menti.
A verdade está aqui,
Por trás das coisas que omiti,
No vão dos versos que escrevi
Em cada vez que eu lhe sorri
Em tudo que foi por ti.

O inexplicável me fascina,
Me alucina e me atiça
A desvendar o indecifrável...






Eu, Álison

sábado, 28 de julho de 2012

Perdido em si

O psicótico, em geral, vem trazido por um familiar; se jovem, é a mãe. Não que ele não se sinta doente, isto tem de ficar bem claro. Ele não se sente é capaz de procurar ajuda sozinho, muitas vezes. Só isto. Sabe que está doente mais do que qualquer pessoa possa imaginar. Na verdade, é porque é a psicose o que leva a pessoa verdadeiramente ao sofrimento. Então o paciente chega ao consultório muito sofrido.

O trabalho é muito difícil, pois está se lidando com pessoas que têm um nível de sofrimento muito alto e a tendência delas e a nossa também é, ao sofrer, querer arrancar de si um pedaço e jogá-lo fora (o sofrimento).

"Se eu (autora) não conseguisse por minha conta um terapeuta, um amigo, bastante amigo, deveria me levar a consultar um que não tivesse medo de doenças e nem de doentes, no caso, eu. Gostaria que o terapeuta fosse um ser humano, não um poço de onipotência, que até pudesse me dizer que algumas coisas que lhe conto ele não entende, mas que fará o possível para me ajudar e me compreender. Enfim, gostaria de me tratar com uma pessoa, uma pessoa que sorrisse para mim. Gostaria que se meu terapeuta me visse na rua me cumprimentasse para que eu não achasse que estava louca ao reconhecer uma pessoa e cumprimentá-la e ter como resposta um olhar distante e desconhecedor. Eu gostaria que meu terapeuta gostasse da minha doença, pois dela emergirá minha saúde. O delirante capta algo que não está bem mesmo e mistura com uma porção de impressões emocionais suas, por isso algumas ideias delirantes de pacientes psicóticos nos parecem tão absurdas".





Eu, Álison

terça-feira, 24 de julho de 2012

Psicose

Eu creio que um paciente que está alucinando ou delirando necessita muito dessas produções para sentir-se, desta maneira, ligado à vida. A ligação é errada, torta, mas o mantém de certa forma ligado à realidade e à vida. Fora disso o medo iria aumentar e sobreviria algo pior, que é descrito por alguns pacientes em pânico, como o "medo de enlouquecer". Creio que este medo seja a destruição interna, a morte.





Eu, Álison