Em 1903, Madame Curie era a mulher mais famosa do mundo. Madame Curie votava o mais profundo desprezo às honrarias e arrebatamentos da glória.
Referindo-se à mais modesta das mulheres célebres, o mais modesto dos homens célebres, – Albert Einstein – comentou uma vez: “Marie Curie é, entre todas as pessoas de nomeada, a única que a fama não corrompeu”.
“Meu Deus, restaurai a saúde de nossa mãe”. Mas aprouve a Deus arrebatar Madame Sklodovska a seus filhos. Era uma família triste e empobrecida a que se reunia em torna da mesa após o falecimento da Madame Sklodovska.
“A existência”, escreveu a jovem, “tornou-se-me intolerável... Eu não quereria que minha pior inimiga vivesse em semelhante inferno”. Manya acariciou por algum tempo a ideia do suicídio. “Sepultei em total esquecimento os meus planos”, escreveu a uma prima.
Tenciono dizer adeus a este mundo desprezível. Pequena será a perda e não me lamentarão por muito tempo...
Mas conseguiu vencer o desalento. Os Sklodovska não pertenciam ao tipo suicida.
Nas aulas, sempre tomava lugar na primeira fila; mas assim que terminavam as aulas, escoava-se para fora como uma sombra. A triste experiência que tivera das convenções vigentes incutira nela uma certa aversão a toda espécie de ligações sociais. “Lindos cabelos, lindos olhos, lindo talhe de moça”, comentavam os rapazes da universidade. “O único inconveniente é que ela não fala com ninguém”.
Vivia no mundo dos livros. E das aulas. Os professores, encantados com a sua imaginação, entusiasmo e habilidade, instigavam-na a empreender novas pesquisas.
Depois do primeiro e infeliz mergulho no vórtice da paixão romântica, ela jurara dedicar o resto da vida à paixão exclusiva pela ciência. Não queria saber de homens. E por esse tempo vivia em Paris um jovem, Pierre Curie, que não queria saber de mulheres, Também ele consagrara a vida exclusivamente às atividades científicas. “Começamos a conversar sobre assuntos científicos... E, antes que disséssemos por tal, estávamos amigos”.
Foi com essa renda exígua que ele timidamente propôs casamento a Mademoiselle Sklodovska; e Mademoiselle Sklodovska – com igual timidez, é preciso confessar – aceitou. Sem embargo, a união de ambos resultou, não apenas em uma colaboração de gênios, mas em uma parceria de amor.
Pierre Curie sempre via coroados de êxito os seus esforços por fugir à notoriedade. O mesmo se dava com Marie. Seu melhor disfarce para evitar que a reconhecessem era não usar nenhum disfarce. À primeira vista, ninguém desconfiaria que a jovem camponesa de modesto vestido preto fosse à festejada cientista que recebera o Prêmio Nobel.
E então, numa chuvosa manhã de Abril de 1906, Pierre saiu de casa para visitar o seu editor. Algumas horas depois trouxeram a Marie o corpo exânime do marido. Escorregara no pavimento molhado e um enorme carro passara por cima. Acabara-se a felicidade de Marie.
E todas as noites, antes de deitar-se, escrevia ao querido morto um relato íntimo dos seus pensamentos. Era como se estivesse escrevendo uma carta a uma pessoa ainda viva. “Meu Pierre, penso em ti constantemente. Tenho a cabeça a rebentar e a razão turbada. Não posso conceber que, de ora avante, terei de viver sem ti”. “Já não amo o sol e as flores. Fazem-me sofrer. Sinto-me melhor nos dias escuros, como o da tua morte”.
Apesar da fadiga, das dores e dos desgostos, sempre estava pronta a dispensar um sorriso animador e uma palavra doce.
Viagens, honrarias, entrevistas, medalhas, conferências, banquetes – e trabalhos e tristeza. “Os sonhadores”, dizia, “não merecem a riqueza porque não a desejam”. Aproximava-se do fim o seu sonho. Madame Marie morrera mártir do seu trabalho.
Eu, Álison