terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Karl Steinmetz

O menino dobrou lentamente o seu traje de cerimônia e dobrou-o. As lágrimas lhe escaldavam as faces. Compreendia a razão da sua dispensa. O corpo deformado do aluno. As mentes deformadas dos mestres. Tinham vergonha de exibi-lo em público. Dando-lhe uma posição de proeminência entre os alunos, não tinham feito mais que acentuar-lhe dolorosamente o senso de solidão. Karl Steinmetz nunca mais tornou a usar traje de rigor.
Pouco depois de entrar na Universidade de Breslau, deu provas de um intelecto prodigioso. Os professores se espantavam dos seus “inconcebíveis malabarismos” com os números. Apelidaram-no Proteu. O corcunda marinho da antiga mitologia. De acordo com a lenda grega, Proteu não era maior que a mão humana. Quando capturado, assumia as mais diferentes formas. Mas se o captor o segurasse bem, Proteu retornava gradualmente à sua forma verdadeira e sussurrava ao ouvido os segredos do mundo.
Tinham certo medo à sua “inteligência sobrenatural”.
Antes de três anos, Karl Steinmetz tinha subido ao trono do reino da luz.
Por que não adotar Proteus como segundo nome?
E então, convencido de que aquilo não era um sonho, tomou da varinha de condão e realizou outro milagre. Sonhe o dia inteiro se tiver vontade.
Quando as luzes começaram a fluir dos dínamos sussurrantes e um milhar de sóis dançaram no ar da meia noite, Steinmetz compreendeu que alcançara a sua meta. Era esse o santuário milagroso que ele procurava desde a infância.
Supunha ser sua personalidade pitoresca o que fascinava as pessoas e não o respeito por suas ideias e sentimentos. E seriam capazes de perceber o quanto se sentia só nesse ambiente luxuoso? E era por isso que tinha edificado uma mansão – um eremitério que lhe satisfizesse as necessidades de experimentador, um espaçoso templo de luz. Um rei sem família, sem amigos. Os jornalistas se entusiasmavam com o esplendor da casa, sem se preocuparem com a solidão do proprietário. Mas ele procurou vencer a solidão.
Mas Steinmetz continuava só – fugindo à companhia do próximo de quem tanto diferia fisicamente.
“Trazei luz às vidas das pessoas – uma luz que não destrói, e apenas cura”.
Mas as sombras ameaçavam tanto a beleza como a fealdade. Steinmetz ia ficando velho e cansado.
Alguns minutos depois o filho adotivo entrou no quarto com a bandeja. Aproximou-se da cama. O homenzinho estava profundamente adormecido.





Eu, Álison

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