Você nunca se descobre, por exemplo,
pensando fora de foco. Você acha que você pensa direito, de algum jeito.
Às vezes você pensa melhor ou, às vezes, você tem dúvida, ou tem
problemas, ou tem incertezas, mas a ideia do fora de foco, num mundo
nosso, visual, é muito grave, entendeu? Eu não me penso fora de foco,
mas, então, o mundo está fora de foco ou eu estaria, entendeu? - Carmela Gross
A
grande experiência que eu tive assim que eu usei óculos, a primeira vez
que eu pus os óculos, foi notar a quantidade de detalhes que se veem
normalmente e que eu não via antes de usar os óculos. Então, por
exemplo, uma coisa que eu achei maravilhosa, foi ver que as árvores eram
múltiplas. Quer dizer, eu sempre soube, intelectualmente, que as
árvores, as copas das árvores, eram compostas de folhas, mas eu só via
aquela massa. Quando eu pus os óculos e notei, embora você não visse
perfeitamente as folhas individuais, você via a multiplicidade de que é
composta uma árvore... Aquilo, para mim, foi uma descoberta maravilhosa.
- Antônio Cícero
Acho que você fica mais consciente do
enquadramento. Quando tinha trinta anos, tentei usar lentes de contato,
mas mesmo quando as usava, procurava meus óculos, porque, apesar de
enxergar bem sem os óculos, sentia falta desse enquadramento. Acho que a
visão é mais seletiva. Temos mais consciência do que vemos de fato. Sem
os óculos, tenho a impressão de ver demais, e não quero ver tanto.
Quero ver de forma mais... Contida. - Wim Wenders
Foi
uma experiência que, naquele momento, parecia dolorosa, mas que foi uma
coisa enriquecedora, que leva muito para a subjetividade, faz a gente
pensar muitas coisas que normalmente não iríamos pensar. Então, hoje eu
acho boa essa experiência, apesar de naquele momento eu ter achado ruim.
Na gente, nas relações. Abre a subjetividade da gente. Quando a gente
está só no exterior, está tudo bem, a gente está tranquilo. Na verdade, o
conhecimento nasce muito disso, do incômodo. O incômodo nos faz pensar,
procurar coisas... - Paulo Cezar Lopes
O ato de ver e
de olhar não se limita a olhar para fora, não se limita a olhar o
visível, mas também o invisível. De certa forma, é o que chamamos de
imaginação. - Oliver Sacks
O que mais me agradava nos
livros era o fato de que aquilo que eles nos davam não se achava somente
dentro deles, mas o que nós, crianças, adicionávamos a eles, é que
fazia a história acontecer. Quando éramos crianças podíamos realmente
ler nas entrelinhas e acrescentar-lhe toda nossa imaginação. Nossa
imaginação realmente completava as palavras. - Wim Wenders
Se
dizemos que os olhos são a janela da alma, sugerimos, de certa forma,
que os olhos são passivos e que as coisas apenas entram, mas a alma e a
imaginação também saem. O que vemos é constantemente modificado pelo
nosso conhecimento, nossos anseios, nossos desejos, nossas emoções, pela
cultura, pelas teorias científicas mais recentes. Se alguma vez vimos
raspas de ferro sobre um ímã e qual o comportamento de um campo
magnético. Acredito que isso entra no imaginário, e de certa maneira
posso ver o campo invisível do ímã. Não posso vê-lo, mas o vejo. Posso
vê-lo com os olhos da mente. - Oliver Sacks
Lembro-me
de minha mãe olhando para mim sempre com aquele olhar triste e
deprimido. Olhando para mim, mas sem se comunicar comigo. Olhando
através
de mim, como que dizendo: "Coitada da minha filha, que horrível", e
isso me afetou, como se eu fosse um fracasso, porque minha mãe me olhava
dessa forma. Mas eu estava decidida a não ser um fracasso, a lutar, a
fazer tudo o que pudesse, a escolher uma profissão na qual, possuindo
algo de único, pudesse transformar essas cinzas em joias.
"Many Happy Returns"
trata do trauma da deformidade, mas, na verdade, foi outra a razão que
me inspirou a fazer o filme. Nesse filme, o mal causado à menina é,
sobretudo, mental, pelo fato de ter que ver e ser testemunha de fatos
difíceis e traumatizantes. Sua visão é machucada, de certa maneira. O
filme diz respeito a isso, mais do que a deformidade.
O paradoxo
em tudo isso é que logo depois da última operação, que foi bem sucedida e
que os olhos foram corrigidos, ninguém notou. Ninguém me disse: "O que
houve com seu olho? Que maravilha!". Ninguém notou. Então, de que
adiantou todo esse trauma? Foi uma lesão interna. Acho que é isso que
tento abordar nesse filme. A verdadeira lesão foi a perda de um olho. A
deformidade que transformava meu rosto em uma espécie de ameixa
enrugada. Era o fato de eu ser vesga, algo que ninguém reparou. Trágico,
não? - Marjut Rimminen
Lembro-me de ter pensado:
"Estou fazendo toda essa ficção sobre Jacques e ele está aí, vivo, e
talvez por pouco tempo", porque ele estava doente. E pensei, como quando
queremos fazer algo por alguém, e dizemos: "Fiquei próxima, tanto
quanto possível, de quem sofria". E para um cineasta, estar próximo quer
dizer estar realmente próximo. Então, eu filmava o que todos viam. Seu
rosto, seus braços, suas mãos, nada de especialmente íntimo, como, por
exemplo, tomar um banho em casa. Mas a maneira como filmei seus braços,
suas mãos e seu rosto, de perto, de muito perto, chegando à textura
desse homem, a pele, pode-se ver cada pelo, como se entrássemos dentro
de sua pele. Muito perto. Acho que só tive essa visão devido ao medo de
perdê-lo... E o perdi. Ele morreu seis meses depois da filmagem. Acho
que ninguém teria sido capaz de realizar esse filme exatamente da
maneira como eu fiz. Como já disse, a visão é alterada por sentimentos,
por fortes sentimentos. - Agnès Varda
Eu, Álison