sexta-feira, 6 de julho de 2012

W. A. Mozart

E diga-nos, papai Leopold, que é que o vêem aqueles olhos?
Que é o que se pode fazer com uma criança assim? Amarrar-lhe o coração? Mas se até o som de uma trombeta lhe punha na alma espasmos de dor!
O mundo mostrar-se-á duro para com ele. Mas, que monta o mundo? Por que perder tempo com lamentações? Wolfgang é uma criança de gênio. Ele que tire disso o melhor proveito.
Aos cinco anos de idade escreveu Mozart um concerto para piano de dificílima execução para qualquer um. Espantoso dom!
Uma chama tão brilhante queimaria muito cedo o óleo do corpinho delicado.
Seria ele, acaso, jovem demais para tais sonhos? Absolutamente.
O jovem maestro estuda o belo da natureza e devolve-nos essa beleza engalanada com a mais rara graça musical.
E agora que crescera e se tornara um homem, compreendeu quão pouco se apreciam os homens uns aos outros.
Abrace-se com Deus, Wolfgang, você ainda conhecerá verdades amargas acerca os homens.
E, de feito, era o destino de Mozart desiludir-se desde o princípio.
Você sucumbe com exagerada facilidade diante de qualquer atração que lhe surge pela frente, como um obstáculo em seu caminho.
A branca pureza do som pode ser tão horripilante quão delicada. Nunca são as rosas brancas tão tristemente belas como quando cercam a morte. Don Giovanni é uma ópera da morte e da noite. A magia do luar sobre a alameda de ciprestes - tal é o fantasmagórico feitiço dessa música.
Ele parecia caminhar num pesadelo. Tinha um jeito curioso de levar os dedos aos lábios para impor silêncio a quem quer que entrasse em sua casa.
Bom dia, mulherzinha querida. Espero que tenhas dormido bem e que não tenhas sido incomodada.
Mozart esmorecia lentamente. Principiaram a povoar-lhe o espírito visões sombrias, e funéreos pensamentos a obcecá-lo. "A morte é a única meta na vida que vale a pena. É um amigo verdadeiro e dedicado".
A noite estranha e mística, que apaga o resplendor do Sol e abranda a febre do dia. Ela desce numa branda chuva remoinhosa de sussurros - sussurros e sonhos, e ergue a cabeça inclinada sobre o liso travesseiro da mortalidade, para a visão do infinito. Não padecerá mais, meu amigo... Por que tremer diante da noite? Vamos Mozart, você é a única pessoa que não deve temê-la. Componha a música para a noite. Entreteça-lhe as sombras com a sua magia tonal. Vamos, vamos, meu amigo, você é a noite!
Que necessidade tinha de ouvir os aplausos dos vivos quando já lhe soavam aos ouvidos os aplausos da legião dos mortos? Aclamavam-no com murmúrios espectrais. "Bravo maestro!"
Jazia pálido. Não era a palidez do sofrimento, senão da paz. Uma febre dera-lhe cabo da existência aos trinta e cinco anos.
Konstanze fora colocada sob os cuidados de um médico. Poucos dias após o enterro, encaminhou-se furtivamente para o cemitério. Procurou, com passo vacilante, a sepultura do marido. Não encontrou um indício sequer. Topou, por acaso, com a choça do zelador. "O senhor poderá me dizer", perguntou com voz trêmula, "onde foi enterrado meu marido? Chamava-se Mozart".
"Mozart?", repetiu o zelador. "Nunca ouvi falar nesse nome".




Eu, Álison

Nenhum comentário:

Postar um comentário