sexta-feira, 27 de julho de 2012

C. A. Debussy

Era aos sete anos em sujeitinho reservado, quieto, meditativo, que nunca brincava com as outras crianças.
Rico material para a construção de novos edifícios de música. Torres enfeitadas de arabescos de desenho delicado. Palácios encantados de sons sem precedentes.
“Quem são, afinal, esses juízes? Que sabem a respeito de arte? Terão, acaso, a certeza de serem eles próprios artistas? De onde deriva, então, o seu direito de conduzir a barca misteriosa do gênio?”.
Debussy exultou. “Graças a Deus”, disse ele, “consegui, finalmente, escrever alguma coisa original!”. Irrequieto, andava de um lado para o outro no quarto enquanto compunha, um toco de cigarro na boca, música rebelde no coração. Ele revolucionaria o mundo dos sons.
Pouco se lhe dava a opinião pública. “Umas poucas pessoas apreciarão as minhas obras. E quanto ao resto, não me importa o que possam pensar”.
Porfiava sempre em arrancar-lhe cadência nova, a estranha sequência de cores, a combinação sutil de sons, os ecos de vozes encantadas vindas de mundos desconhecidos.
Aborrecia a necessidade de roubar tantas horas às realidades dos seus sonhos para dedicar às inanidades da existência. Os seus pensamentos, como seus hábitos, eram irregulares.
Os seus verdadeiros prazeres, no entanto, tinha-os nos sábados à noite, quando os velhos e queridos amigos se reuniam em sua casa.
Tornara-se perito no sutil matizar das palavras, assim como era perito na matização sutil dos sons.
O seu desprezo aos outros, entretanto, era contrabalanceado pela sua modéstia em relação a si mesmo. Raramente falava da própria música. Nunca se considerou um grande homem.
Não tenho feito outra coisa senão realizar experimentos a fim de satisfazer o meu gosto pelo inexpressível. Em lugar disso, uma encantadora corrente de música que transporta os corações de alguns poucos iniciados para aquelas “mágicas janelas encantadas, que se abrem na espuma de mares perigosos, em perdidos recantos de fadas”.
Crianças refugiadas, perdidas no inferno do campo de batalha. Nada veem à volta de si senão o frio, a fome, o medo e a incerteza do futuro.
“O artista na civilização moderna”, dizia, “será sempre uma criatura cuja utilidade só há de ser reconhecida após a sua morte”. Desdenhava o materialismo do mundo. Evitava a companhia dos homens de negócios, da maioria dos homens.
Mas o seu tempo de amar, e de viver também, chegara quase ao fim. Atacado de câncer, os últimos anos de sua vida foram anos de tortura. De princípio, buscou esconder dos amigos a enfermidade. Por que aborrecê-los com as suas preocupações? Não tinham eles, acaso, preocupações próprias?
Proféticas palavras!




Eu, Álison

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