terça-feira, 10 de julho de 2012

L. V. Beethoven

Bach foi o matemático da música; Mozart, o poeta; Beethoven, o filósofo. No jardim do espírito humano é a semente da filosofia a única que floresce.
Não lhe era fácil tarefa atender aos mínimos pormenores do governo da casa, pois grandes pensamentos principiavam a agitar-se dentro dele. Aborrecido com o destino e preocupado com a saúde, tornou-se amargo, sarcástico, mal humorado.
Possuíam-no acessos violentíssimos de raiva e acometimentos igualmente violentos de remorsos.
Possuía especial habilidade em fazer amigos a despeito do gênio fogoso e da língua mordaz. Os outros admiravam-lhe o espírito puro, indômito e rebelde, o absoluto desprezo das delicadezas excessivas diante das realidades da vida. A figura atlética, atarracada e rude e o espírito teimoso, positivo e incapaz de transigências exerciam poderosa fascinação. “Ainda bem”, disse um amigo depois da visita de Beethoven à corte, “que você conhece a etiqueta apropriada em presença da nobreza”. Ao que Beethoven replicou: “Pois você devia dizer: ainda bem que a nobreza conhece a etiqueta em presença do gênio”.
“A felicidade”, dizia ele “não foi feita para mim; ou melhor, eu não fui feito para a felicidade”. O seu gênio precisava de solidão para desenvolver-se. Solidão e sofrimento. “Não vim ao mundo para levar uma vida agradável, mas para realizar uma grande obra”. Retirou-se da sociedade e tornou à casca de eremita da sua rebeldia e da sua rudeza.
O temperamento de Beethoven era explosivo, arrogante – e triste. Quem sente intensamente, sofre intensamente. Um instrumento afinado com a beleza é sensível à dor. A mesma sensibilidade nervosa que lhe proporcionava o gênio proporcionava-lhe também a infelicidade.
Beethoven aspirava a realizar-se a si próprio. Ouvir-lhe-iam a música e quedariam maravilhados diante do novo gigante criativo que assomava ao horizonte.
“Acreditarão, acaso, que posso pensar em um miserável violino quando converso com o espírito?”
De conforme com seu temperamento ardente, Beethoven estava sempre se apaixonando por esta ou aquela mulher. Beethoven, certo, não era o tipo de homem destinado a conquistar o coração feminino.
Surdez e romance nunca se deram muito bem. As palavras ternas de afeto hão de ser murmuradas, e não pronunciadas aos gritos. As mulheres que rodeavam Beethoven admiravam-no, compadeciam-se dele, chegavam, às vezes, a adorá-lo; nunca, porém, o amaram.
E essas senhoras ansiavam por ouvir e aplaudir Beethoven, embora não ansiassem a flertar com ele. Não se flerta com um deus.




Eu, Álison

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