quarta-feira, 18 de julho de 2012

W. R. Wagner

Desde a mais tenra infância, manifestou ilimitada confiança em si mesmo, absoluto desdém aos outros e espantoso talento para a poesia e para a música.
Sem bem fosse, musicalmente, um autodidata, tinha absoluta certeza da sua habilidade em assombrar e conquistar o mundo.
Infelizes são os que o destino liga à roda impetuosa do gênio.
Wagner oferecia beleza ao mundo e esse recompensava-o com desdém.
Carregassem os outros a coroa de espinhos para que eu pudesse receber a recompensa da glória.
Um homem com a sua excitabilidade interior, dizia, necessitava de “assistência mental” – almas irmãs que lhe compreendessem a música e que lhe pudessem inspirar os “mais supremos esforços”. Pode ser que, sob o aspecto artístico, fosse justificável a crueldade dessa atitude. É possível que ele precisasse desse néctar de paixão para alimentar as suas ardentias criadoras.
Música significa para o mundo; frias consolações para as vítimas dessa gloriosa música.
“Sou diferente dos outros homens”, dizia. “O mundo deve dar-me o que preciso”.
A moeda de ouro do meu cérebro em troca do vil metal dos bolsos deles.
Em todas as suas disputas – e estas não lhe faltavam – estava Wagner convencido de que estava absolutamente certo e todos os demais absolutamente errados.
Wagner acreditava – e tinha o direito de acreditar – que viera ao mundo para fabricar músicas sublimes. O sofrimento, a pobreza, as enfermidades – nada conseguia desviá-lo da tarefa que se impusera.
O passo seguinte havia de ser “a música fertilizada pela poesia”. “As palavras só”, asseverava, “não logram expressar a espécie mais alta de poesia. As palavras são as raízes, e a música, a flor”.
À semelhança do que ocorre nos quadros de Leonardo, as personagens humanas de Wagner constituem tão somente parte da intrincada trama natural que ele coloca na tela do seu teatro. Nesse particular seguiram, ao mesmo tempo, Leonardo e Wagner a técnica do Grande Artista Músico, visto que no drama musical do universo a vida do homem representa apenas uma nota.
O espírito de Wagner, no entanto, continuou irrequieto como sempre.
De quando em quando empanavam o brilho dos seus últimos dias a sobrançaria de sua cólera jupiteriana e o trovão de sua controvérsia.
Era uma criatura surpreendente – um homem dotado de tão imenso gênio e de não pequena insânia.
Wagner não pensa, por um minuto sequer, em ninguém, a não ser em si mesmo.
Quando excitado, saiam-lhe as palavras aos gritos; os seus discursos satirizavam ao acaso. Semelhava, nessas ocasiões, alguma força elementar desencadeada... A menor contradiçãozinha provocava nele fúria incrível.
Aproximavam-se dele, um por um, depositavam os corações diante do relicário do seu gênio e depois se afastavam, silenciosos. Nos últimos dias de sua vida ele se viu praticamente só.
Mas quando caiu morto, uma personalidade única deixou o mundo – uma criança travessa que aprendera a conversar com os deuses.




Eu, Álison

Nenhum comentário:

Postar um comentário