Puccini assistira à estreia e lágrimas de comoção tinham-lhe
assaltado os olhos diante dos aplausos tumultuosos – lágrimas de felicidade pela
boa fortuna do amigo, mas também lágrimas de dor e de inveja, pois ele ainda não
obtivera distinção.
Derivava-lhe rápida, mas não profunda, a corrente do gênio.
O narcótico de sua música destinava-se, todavia, a encantar o mundo.
“No dia em que eu não mais me apaixonar, poderão me
encomendar o enterro”.
Puccini vivia perseguido por essa espécie, aliás, desejável,
de lunatismo. O seu principal prazer, no entanto, era a solidão. A conversa dos
amigos, a fumaça densa a subir para o teto e a música a sair-lhe borbulhante da
ponta dos dedos – tal era a ideia que fazia da solidão, do céu na terra.
Para além do avarandado, estendia-se em lago de prata,
contrastando com o firmamento noturno. E lá, ao piano, enquanto tecia os seus
sonhos, a observar o lago e a floresta, sentia-se, ao mesmo tempo, criador e
parte íntima de toda a criação.
“Mas é imortal, porque ama com o coração que sabe sofrer. Tocarei
agora a cena da morte, que acabei de completar”. Ouvindo a música, sentiram os
amigos que a comoção os subjulgava. –
Você também será imortal – observou um deles.
Puccini sorriu. – talvez.
Em sua música não havia força cósmica. Não falava a
linguagem dos deuses senão a das criaturas humanas.
O destino – mestre da surpresa pondo termo ao drama da vida
humana.
Eu, Álison
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