Via com presteza as próprias deficiências e, com a mesmo presteza, as deficiências alheias.
Ao sair de uma sala numa de suas noites mais sarcásticas, inclinou-se, irônico, e disse: “Se há alguém nesta sala que esqueci de insultar, peço-lhe que me perdoe a inadvertência”. A grosseria, contudo, era nele, como vimos, o reverso apenas do sentimentalismo. A sua música, como o seu temperamento, ocultavam uma alma terna dentro de um corpo de granito.
Brahms era um estudo de contrastes. E desses contrastes o maior, porventura, era o que existia entre o desalinho da aparência e a precisão do espírito. Parecia, exteriormente, levar uma vida desordenada. Interiormente a sua existência era uma unidade perfeita. Reconhecendo com absoluta segurança os verdadeiros valores, extremava-se como uma pessoa negligentemente perfeita em sua arte e perfeitamente negligente em seus hábitos pessoais. Sua preguiça física era unicamente consequência de sua intensa vida mental.
Ele percebia os próprios erros e desvelava-se por corrigi-los. A meticulosidade transformou-se nele numa quase mania.
Um estudo de contraste – triste enigma humano.
Próximo ao coração trazia também o mais estranho dos seus filhos – um sujeito mal humorado, tempestuoso e gigantesco. E havia ainda a encantadora donzela.
A sua saúde de ferro estava fraquejando. Não obstante, baqueou-lhe o corpo sem aviso prévio. Disseram os médicos que sua doença era um câncer, e antes que ele pudesse volver em si da surpresa, tudo se acabou.
“Eu não havia sequer começado a expressar-me”, lastimou-se ele em seu leito de morte. Mas ele, talvez, tenha levado consigo, para um público novo e maior, a música que não deixara escrita.
Eu, Álison
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