sexta-feira, 13 de julho de 2012

F. Mendelssohn

Que estranho fenômeno, esse jovem compositor-regente – pouco maior, no físico, que uma criança, e no talento, pouco menor que um deus!
Mas se Mendelssohn era o observado de todos, era também o observador de tudo. Sentado ao piano, não se lhe atarefavam menos os olhos do que os dedos.
A magia dos panoramas escoceses não só lhe despertou a fantasia musical senão ainda a poética: “Quando o próprio Deus se mete a pintar panoramas”, escreveu numa carta da Escócia, “faz quadros estranhamente belos”.
“Ele era sinceramente dedicado aos amigos. Era, de feito, uma felicidade ser amado de Felix”. E amá-lo.
Ele possuía, felizmente, senso de humor, uma habilidade de compreender a pequenez do homem dentro da grandeza do universo. Habituara-se a olhar o mundo sob um prisma filosófico.
Diante dos túmulos de Beethoven e Schubert, em Viena, ponderou: “A sepultura é o fim de todos os esforços. Há-de o gênio renunciar em prol do mundo os seus trabalhos e arrastar-se depois para um canto a fim de morrer”.
A maior parte dos seus pensamentos, no entanto, estavam muito distantes da morte, pois uma perpétua canção de primavera borbulhava na alegria do seu coração.
Apaixonava-se incessantemente: contudo, diversamente de Liszt, jamais roubou a outros o seu amor.
“Não se passa um dia sem que ele produza pelo menos alguns pensamentos que deviam ser incontinenti gravados em ouro”.
Cecília não era excepcionalmente brilhante, nem excepcionalmente prendada. Era, todavia, excepcionalmente bela e tão delicada quanto bela. “A sua disposição serena a alegre”, escreveu ele, “é como uma bebida fria para meu espírito inquieto”. Esta menina, com seus lindos olhos e a sua tranquila disposição, há-de, muito provavelmente, curar-lhe de todos os acessos de irritabilidade.
Delegações, discursos, serenatas – glórias amontoando-se sobre glórias, torturas sucedendo-se a torturas. O preço de um êxito demasiadamente grande. A maçã envenenada da fama excessiva. O esforço comprometeu-lhe irremediavelmente a saúde.
Duas criaturas encantadas, pasmadas diante do milagre do desabrochar das flores humanas. Não tardou muito o dia, porém, em que Mendelssohn devia quedar-se igualmente pasmado diante do milagre do colher das flores humanas. Milagre e mistério amargo.
O mestre levantou subitamente a cabeça e atirou-a para trás num gesto que bem conheciam os presentes. Fora chamado o maestro para dirigir, no além, o seu primeiro concerto.




Eu, Álison

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