domingo, 29 de julho de 2012

J. Sibelius

Manifestou-se-lhe cedo, embora não precocemente, o talento musical.
Nem bem eram decorridos dois anos quando, sem nenhum treino metódico, começou ele a expressar-se numa linguagem musical própria. Rejeitando a influência dos clássicos, entrou a formar um novo idioma, uma interpretação individual das nórdicas paisagens com a espuma dos mares, as suas florestas e as suas montanhas. De tal arte se absorvia Sibelius na música e nos sonhos que prestava pouquíssima atenção às aulas do colégio.
No refúgio do seu quarto, contudo, compunha a seu belo prazer, utilizando-se do estilo e dos métodos próprios.
“Eu não podia resistir à impressão de ser um escavador desenterrar esqueletos do passado”. Sibelius estava destinado a tornar-se um dos grandes paradoxos da música moderna.
O seu amor à natureza – ou para expressá-lo em seu sentido mais lato, o seu amor à vida – era nele uma religião. A música é apenas um dos espelhos que refletem a vida.
O compositor cometeu toda a sua vida espiritual ao julgamento da própria alma. Não se deixava influenciar pelos valores convencionais alheios, especialmente pelos dos críticos profissionais que se propunham a estimar o infinito da arte através do finito dos seus óculos.
As suas lutas era mentais e não materiais. “Dir-se-ia um pensamento nascido debaixo de um céu enfarruscado forcejando, lentamente, por alcançar regiões mais puras”.
Quando alguém proclamava, aos berros, seu amor a outrem, não faz outra coisa senão por em praça seu amor a si mesmo. Sibelius não acreditava na demonstração vulgar de emoção. A harmonia do controle é tão necessária nos tons da orquestra como nos sentimentos do coração humano.
Existe amiúde um grande abismo – diz Sibelius – entre os temas ideais que atravessam o cérebro do compositor e os sons audíveis que chegam aos ouvidos dos frequentadores de concertos em sua forma final. “Há na música, como na vida, toda a sorte de obstáculos à expressão efetiva das nossas ideias”.
Nunca foi a melancolia da vida mais sincera ou mais graficamente expressada. Ninguém mais, entretanto, teria sido capaz de entendê-la, pois trata-se de uma expressão pessoal profunda e única pertencente a um mundo próprio – um mundo que nenhuma outra composição musical pôde jamais penetrar. É a casta criação de um gênio austero e retrata a força inquieta de um destino esmagador.
Principiara a vacilar a fé que possuíam muitos homens voltados para as coisas do espírito. Sibelius já atingira em sua música as profundezas do pessimismo. Mesmo antes da guerra impressionara-o profundamente o espetáculo da desumanidade do homem em relação ao homem.
Sibelius encerrou sua série de sinfonias no número mágico – sete. E nessas sete sinfonias demonstrou uma versatilidade somente igualada por Beethoven.
Como no caso de Beethoven e Shakespeare, surpreendemo-nos a fazer a seguinte pergunta: “Pode um espírito humano abranger tamanha diversidade de pensamento?”.
“Ninguém suponha que a composição se torna mais fácil com o passar dos anos quando o compositor leva a sério sua arte. Quanto mais velho o artista, maiores as exigências que faz a si mesmo... A gente vive a topar com problemas novos”.




Eu, Álison

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