segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Fachos de luz

Pois só pode merecer o nome de gênio alguém que assume como tema de suas realizações a totalidade, aquilo que é grandioso, as coisas essenciais e gerais, e não alguém que dedica os esforços de sua vida a esclarecer qualquer relação científica de objetos entre si.

Os eruditos são aqueles que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e promotores da espécie humana são aqueles que as leram diretamente no livro do mundo.

No reino da realidade, por mais bela, feliz e graciosa que ela possa ser, nós nos movemos sempre sob a influência da gravidade, força que precisamos superar incessantemente. Em compensação, no reino dos pensamentos, somos espíritos incorpóreos, sem gravidade e sem necessidade. Por isso não existe felicidade maior na Terra do que aquela que um espírito belo e produtivo encontra em si mesmo nos momentos felizes.

É sempre um erro querer transferir para a literatura a tolerância que na sociedade é preciso ter com as pessoas estúpidas e descerebradas que se encontram por todo lado.

Também vemos todo pensador autêntico se esforçar para dar a seus pensamentos a expressão mais pura, clara, segura e concisa possível. Consequentemente, a simplicidade sempre foi uma marca não só da verdade, mas também do gênio.

Além de tudo, os pensamentos postos em papel não passam, em geral, de um vestígio deixado na areia por um passante: vê-se bem o caminho que ele tomou, mas para saber o que ele viu durante o caminho é preciso usar os próprios olhos.

Isso explica por que é possível ler livros de pessoas em cuja companhia não encontramos nenhuma satisfação, e também é por esse motivo que a cultura espiritual elevada nos leva gradativamente a encontrar prazer apenas nos livros, não mais nos homens.

É por isso que a primeira geralmente é angustiante, mesmo terrível: medo, necessidade, engano e assassinatos horríveis, em massa. A outra, em contrapartida, é agradável e jovial, assim como o intelecto isolado, mesmo quando descreve erros e descaminhos.

Assim, o autor poria diante dos nossos olhos aquela interminável batalha travada pelo que é bom e autêntico, em todos os tempos e países, contra o domínio do que é deturpado e ruim; descreveria o martírio de quase todos os verdadeiros iluminados da humanidade, de quase todos os grandes mestres em cada disciplina e em cada arte; mostraria como eles, com poucas exceções, sofreram na pobreza e na miséria, sem reconhecimento, sem apreço, sem alunos, enquanto a fama, a honra e a riqueza eram reservadas aos indignos em cada área.

Trechos de "A Arte de Escrever", de Arthur Schopenhauer



Eu, Álison

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