segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

E, à medida que isto se amplia

Acabará por romper as barreiras e nos esmagar.

"Exageras tudo e, por certo, cometes pelo menos o erro de aceitar o suicídio, que é do que estamos falando agora, como se fosse uma grande ação, quando não é nada mais do que simplesmente fraqueza. Pois, para ser sincero, é mais fácil morrer do que suportar com firmeza uma vida de tormentos".

A natureza humana tem seus limites; pode suportar até certo ponto a alegria, a mágoa, a dor, mas passando deste ponto ela sucumbe. A questão não é, pois, saber se um homem é fraco ou forte, mas se pode suportar o peso dos seus sofrimentos, quer morais, quer físicos.

Tudo é escuridão a sua volta, nenhuma perspectiva, nenhum consolo, nenhum vislumbre de esperança, porque a abandonou o único por quem e em quem ela sentia viver! Ela sente-se sozinha, abandonada por todos... E cega, oprimida pelo horrível aperto de seu coração, arroja-se para o abismo para sufocar todos os seus tormentos na morte que tudo abarca.

[...] Antes andou louco durante um ano inteiro e teve de ser recolhido ao hospício, onde jazia algemado. De repente pôs-se a devanear, caiu doente de febre, depois veio o delírio, e agora acha-se no estado em que o vedes. Pobre miserável! E, contudo invejo-te a loucura, esse desarranjo dos sentidos em que te consomes! Não sentes, não sentes que é em teu coração destroçado, em teu cérebro arruinado, que jaz tua miséria, da qual nem todos os reis da terra poderiam te libertar.

Morra desesperado aquele que rir de um doente, que viaja às fontes mais distantes para buscar águas que, ao invés de diminuir, lhe aumentam a enfermidade e lhe tornam o fim da vida ainda mais doloroso! E o mesmo aconteça àquele que fizer pouco do coração opresso que, para se libertar dos remorsos, para acalmar sua aquietação e o sofrimento de sua alma, faz a peregrinação ao Santo Sepulcro!

"Está decidido, Carlota, quero morrer, e escrevo-te sem nenhuma exaltação romantesca, sossegado, na manhã do dia em que te verei pela última vez. Quando leres esta, minha querida, o túmulo gelado já estará cobrindo os despojos rijos do inquieto, do desgraçado que não conheceu prazer mais doce para os derradeiros momentos de sua vida do que o de se ocupar contigo. Tive uma noite terrível e, por que não dizer, uma noite benéfica. Ela definiu, radicou a minha resolução... Quero morrer! Quando me arranquei ontem de perto de ti, que convulsão sentia na alma, que horrível aperto no coração, ao notar o modo brutal como o meu ser se consumia junto de ti, sem alegria, sem esperança, numa frialdade tenebrosa... Mal pude chegar ao meu quarto. Lancei-me de joelhos, sentindo-me fora de mim, e, oh Deus! Concedeste-me pela última vez o alívio das lágrimas mais amargas. Mil projetos, mil perspectivas lutaram em fúria na minha alma, e por fim ficou ali firme e inteiriço, o último, o único pensamento... Quero morrer! Estava calmo quando comecei... E agora... Agora choro como uma criança ao sentir que tudo me afeta de maneira tão viva".

De manhã, por volta das seis, o criado entrou no quarto com a lamparina nas mãos. Encontrou seu senhor prostrado ao chão, a pistola e sangue.





Eu, Álison

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