quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Apenas me deixem

A verdade é que vocês são todos vermes, aves de rapina, alimentando-se da morte, da dor, das lágrimas. Veem esta que dorme na caixa de madeira? É a minha garota, meu pote de sonhos e ela não vai mais acordar. Ela não vai mais dançar sob o véu púrpura, não vai mais brilhar nos palcos da vida, não vai mais sorrir, não vai mais respirar… Minha garota me deixou para sempre. Algum de vocês sabe o que significa para sempre? Não, mas é claro que não. Recolham as lágrimas, não ousem as derramar sobre minha pequena, deixem-na dormir, deixem-na em paz e deixem a mim também. Estou dispensando os pêsames e toda a falsa solidariedade que a tragédia inspira. Estou dispensando todos vocês. Eu não preciso. Meu coração acaba de morrer e se eu for capaz de continuar a existir sem ele, não será difícil ficar sem todo o resto. Não escarneçam de mim! Recolham também os murmúrios, os olhares desconfiados a expressões penosas. Vamos! Saiam todos! Arrastem seus corpos de volta à suas vidas medíocres, me deixem a sós com ela, com a minha dor… Apenas me deixem.







Eu, Álison

Nenhum comentário:

Postar um comentário