terça-feira, 13 de novembro de 2012

São doidos


Hoje perdi-me no pensamento e na dor daqueles que chegam até mim no desespero e na agonia de serem e de se sentirem diferentes. Não é o ser diferente que lhes dói. O que lhes dói é a sensação de não serem respeitados na sua diferença, serem olhados como diferentes, incompreendidos, sentirem que não existe espaço nesta sociedade para existirem tal como são... São os loucos!
Em agonia, tristes, muitos isolam-se no seu canto... Desistem! Outros, porém, agem a sua dor, continuam a lutar, a tentar existir nesta sociedade, a denunciar ativamente e a proclamar os seus direitos!
Nem sempre é fácil existir!
Foi perdida neles que me lembrei deste pequeno texto de um grande escritor, e que descreve muito bem o que é isto da loucura!
Talvez vos sirva de consolo... Talvez seja apenas uma questão de números!

“Loucura?! Mas afinal, o que vem a ser a loucura? Um enigma... Por isso mesmo é que às pessoas enigmáticas, incompreensíveis, se dá o nome de “loucos”. Que a loucura, no fundo, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco. É a gente de juízo... Pelo contrário, um reduzido número de indivíduos vê objetos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria... São doidos. Se um dia, porém, a sorte favorecesse os loucos, se o seu número fosse o superior e o gênero da sua loucura idêntico, eles é que passariam a ser ajuizados: Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei, diz o adágio: na terra dos doidos, quem tem juízo é doido, concluo eu. O meu amigo não pensava como toda a gente... Eu não o compreendia: chamava-lhe doido... Eis tudo".

Mário de Sá Carneiro, In "Loucura"



Eu, Álison

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