domingo, 26 de maio de 2013

Entre as junturas dos ossos

Por Vera Lúcia de Oliveira.

E, como a poesia concentra significados, cada palavra no texto tem seu peso específico, é feita de concretude e pesa como a coisa que ela representa. Tem cheiro, sabor, range, geme, uiva, fala, às vezes rasteja na página como um bicho, esbraveja como uma pessoa ferida, ilumina como uma lâmpada, chora como num luto ou rasga a casca da semente, que é de som e ao mesmo tempo não é.

Meninas

As meninas que da alma pulam
Brincam de esticar
O tempo

Com suas saias rodadas
Dançam a canção mais pura
Que aprenderam
Correndo
Entre as junturas dos ossos.


Os Pássaros

Os pássaros de pedra dilatam as oferendas
Os pássaros de carne batem-se contra as grades
Os pássaros de lata arrulham nas ferrovias dos nervos
Os pássaros de madeira mascam o macio dos músculos
Os pássaros de papel voam para dentro das crases
Os pássaros de carvão rabiscam suas asas no ventre
Os pássaros de fogo puxam os pássaros de chuva
Os pássaros de pano acalentam os pássaros de pranto


Sempre

Fui sempre
De percorrer na carne
O puído dos vãos
Sempre de pôr o pé
Na intimidade
Das veias
Sempre de lavrar
Os dias mais
Ferozes
Para que doendo
Amansem a morte






Eu, Álison

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