Porque aquilo que você está enxergando não necessariamente é daquele jeito.
E como se quisesse acrescentar um novo símbolo ao seu caráter de eremita, deixou crescer uma barba que, com o tempo, se tornou branca e majestosa - e que lhe servia, além disso, para esconder o colarinho aberto, pois raramente usava gravata. À medida que envelhecia, tornava-se maior e mais pronunciado seu desleixo. Era, no íntimo, um camponês, que se agradava dos trajes grosseiros e das grosseiras gargalhadas dos camponeses. Trazia sempre um velho chapéu estragado que se diria ter saído de um cinzeiro. Nas mais rigorosas cerimônias envergava camisas de flanela sem mangas. As calças surradas apenas lhe chegavam aos sapatos. Certa noite, numa festa, como a conversa passasse a versar sobre meias, escandalizou um grupo de velhas senhoras vienenses observando: Vejam como são elegantes as minhas meias". E levantou a calça para mostrar um tornozelo nu. Via-se-lhe, de ordinário, um remendo no assento das calças e nos cotovelos do paletó de alpaca. Raramente trocava de roupa. Atirava-a de qualquer maneira dentro da mala quando tinha de viajar, e deixava-a espalhada pelo chão quando vinha dormir em casa. Nunca ninguém o viu passá-la a ferro. Persuadiram o alfaiate dele a cortar-lhe um par de calças que tivesse o comprimento adequado, mas quando Brahms as recebeu, cortou-lhe até que lhe ficaram acima dos sapatos. Nem sempre, no entanto, era muito acurado em seus cortes, de modo que, muitas vezes, aparecia com uma perna mais comprida do que a outra. Mesmo enquanto jovem, antes de se lhe confirmarem os hábitos de solteirão, demonstrava o mesmo relaxamento no tocante à aparência física.
Toda vez que se lhe rasgava as calças ele reunia os pedaços rasgados com lacre. "O que atrapalhava é que o lacre não durava muito tempo".
Eu, Álison
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