Entrou no Hospital Infantil de Toronto como cirurgião residente. Achava interessante remendar corpos enfermos, dar aos seres humanos mais uma oportunidade na vida. “Parece que não vou conseguir êxito”, disse, com um sorriso contrafeito. “Mas de qualquer modo, sou bastante louco para teimar”.
De súbito, uma ideia lhe brotou no cérebro. Por alguns momentos Banting procurou “iluminar o abismo” interposto entre a ideia e a deliciosa vaga de sonolência que o invadia. Depois adormeceu. Os maiores fisiologistas do mundo têm passado anos fazendo experiências com o pâncreas. E qual foi o resultado de tudo isso? Elaboraram uma dieta de fome para torturar e matar lentamente as vítimas.
Mas os soldados não tinham medo. Esperando a morte em qualquer caso, estavam dispostos a submeter-se às experiências de Banting.
Agora mostrou-se igualmente imperturbável sob outra espécie de fogo – uma saraivada de honrarias e distinções. Aceitava todas as honras com um sorriso e prosseguia modestamente o seu labor. “A satisfação é coisa que não está ao alcance do espírito humano bem constituído”. O que importa ao progresso humano não é o pensador, mas o pensamento. “O pensador morre, mas o pensamento sobrevive”.
Terminadas as horas de paciente investigação, Banting pegava um pincel e telas e saía a percorrer o campo, fixando as cenas que encontrava. Pois a pintura era seu modo de descansar o espírito.
Chegara aos 49 anos. Na escuridão do outono do mundo, teve início uma nova e obstinada pesquisa para combater uma enfermidade maligna – o assalto à liberdade humana.
Mais de uma vez fixara na tela as sombras dos seus belos traços e a luz do sol em seus olhos.
O piloto compreendeu que devia ir imediatamente em busca de socorro ou Dr. Banting não viveria até a noite. Saiu a caminhar a passos trôpegos por aquela solidão de rochas, arbustos e gelo. Voltou arrastando-se para o avião. O Dr. Banting conseguira desembaraçar-se dos escombros e sair para o ar livre, onde jazia a cinco pés do aparelho.
Fora o último dos seus atos obstinados. Estava silencioso agora.
Eu, Álison
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