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quarta-feira, 11 de julho de 2012

L. V. Beethoven - Continuação

Não me é dado encontrar recreação na sociedade dos homens, numa conversação requintada, na recíproca permuta de ideias e sentimentos... Devo viver como exilado. Mais um pouco, e eu teria dado cabo da minha vida.
Logo, porém, desistiu da ideia da morte. Ele tinha algo por que viver – a sua arte. “A arte apenas me susteve... Esvaziei a taça de amargo sofrimento... Este se transformará em beleza dentro da minha alma...”.
“Em memória de um grande homem” – um homem cujo corpo ainda vivia, mas cuja alma já morrera.
O cinismo de Beethoven aumentou com os anos. Para muitos dos seus contemporâneos ele não era um gênio, senão um excêntrico. Mostrava-se rabugento diante dos amigos, arremessava livros contra os criados e insultava os benfeitores. “O que sois, vós o deveis ao acaso e ao nascimento. O que sou, devo-o a mim mesmo. Já ouve e haverá ainda milhares de príncipes. No entanto, existe apenas um só Beethoven”.
Mas era a impetuosidade e o fogo de um vulcão, das grandes forças da própria Natureza, pois havia nele um Titã. Sem embargo, essa fúria exterior ocultava um coração delicado.
As suas amizades, entretanto, representavam mero incidente em sua vida. Era a música a única paixão que o possuía. A criação na soledade. “Vivo só, mas não me aflijo por isso, pois sei que Deus esta mais perto de mim que dos outros”.
E, em todos os casos, música de cunho único, original e divino, forjada no metal puro da fantasia de Beethoven. A música de Beethoven interpretando as ideias de Deus.
A história da luta do Homem contra o Destino e da vitória do Homem guiado pelo céu. É o poema épico da peregrinação do Homem do Sofrimento para a sabedoria, da sabedoria para a coragem, da coragem para a esperança e desta para a vida eterna.
Um dos grandes acontecimentos na vida de Beethoven foi o seu encontro com Goethe. Foi aí que o poeta dos sons veio a conhecer o poeta das palavras. “É a joia mais preciosa da nossa terra”. Davam, todavia, longos passeios, cada qual absorto nas próprias ideias – dois artistas supremos a traduzir o mistério do mundo em linguagens diversas.
É uma diferença de princípios, profundo desencontro no que concerne aos valores reais da vida. Para Goethe, a realeza era mais importante que o gênio. Para Beethoven, o gênio era mais importante que a realeza.
A surdez não foi um acidente nem uma tragédia. Foi o amanho do solo para o florejar do gênio.
Jazia Beethoven em seu leito de morte. Estava, naquele momento, inconsciente. Fora rugia terrífica tempestade. De repente, o fuzilar de um relâmpago. Depois, tornou a cair para trás, morto.






Eu, Álison

terça-feira, 10 de julho de 2012

L. V. Beethoven

Bach foi o matemático da música; Mozart, o poeta; Beethoven, o filósofo. No jardim do espírito humano é a semente da filosofia a única que floresce.
Não lhe era fácil tarefa atender aos mínimos pormenores do governo da casa, pois grandes pensamentos principiavam a agitar-se dentro dele. Aborrecido com o destino e preocupado com a saúde, tornou-se amargo, sarcástico, mal humorado.
Possuíam-no acessos violentíssimos de raiva e acometimentos igualmente violentos de remorsos.
Possuía especial habilidade em fazer amigos a despeito do gênio fogoso e da língua mordaz. Os outros admiravam-lhe o espírito puro, indômito e rebelde, o absoluto desprezo das delicadezas excessivas diante das realidades da vida. A figura atlética, atarracada e rude e o espírito teimoso, positivo e incapaz de transigências exerciam poderosa fascinação. “Ainda bem”, disse um amigo depois da visita de Beethoven à corte, “que você conhece a etiqueta apropriada em presença da nobreza”. Ao que Beethoven replicou: “Pois você devia dizer: ainda bem que a nobreza conhece a etiqueta em presença do gênio”.
“A felicidade”, dizia ele “não foi feita para mim; ou melhor, eu não fui feito para a felicidade”. O seu gênio precisava de solidão para desenvolver-se. Solidão e sofrimento. “Não vim ao mundo para levar uma vida agradável, mas para realizar uma grande obra”. Retirou-se da sociedade e tornou à casca de eremita da sua rebeldia e da sua rudeza.
O temperamento de Beethoven era explosivo, arrogante – e triste. Quem sente intensamente, sofre intensamente. Um instrumento afinado com a beleza é sensível à dor. A mesma sensibilidade nervosa que lhe proporcionava o gênio proporcionava-lhe também a infelicidade.
Beethoven aspirava a realizar-se a si próprio. Ouvir-lhe-iam a música e quedariam maravilhados diante do novo gigante criativo que assomava ao horizonte.
“Acreditarão, acaso, que posso pensar em um miserável violino quando converso com o espírito?”
De conforme com seu temperamento ardente, Beethoven estava sempre se apaixonando por esta ou aquela mulher. Beethoven, certo, não era o tipo de homem destinado a conquistar o coração feminino.
Surdez e romance nunca se deram muito bem. As palavras ternas de afeto hão de ser murmuradas, e não pronunciadas aos gritos. As mulheres que rodeavam Beethoven admiravam-no, compadeciam-se dele, chegavam, às vezes, a adorá-lo; nunca, porém, o amaram.
E essas senhoras ansiavam por ouvir e aplaudir Beethoven, embora não ansiassem a flertar com ele. Não se flerta com um deus.




Eu, Álison

sábado, 30 de junho de 2012

J. S. Bach

Os maiores obstáculos contra o progresso de um homem não são, às vezes, forças impessoais, senão humanas, pensava Bach.
Meus bons amigos, vocês não compreendem esse Bach. É um gênio.
Meu Deus! Existe apenas um grande Bach!
Assim, de feito, é que era: mas que poderia fazer um pobre diabo de aluno com um louco que improvisava em claves completamente estranhas ao ouvido humano e que saltava de uma clave para outra, displicente, sem a menor pausa na torrente de sua melodia?
Família de estranhos talentos e nervos sensitivos, esses Bachs. Especialmente papai Sebastian. Quando alguém sente a música com profundeza, com demasiada profundeza, força é que se mostre irritadiço em relação a esses organistas profissionais, cujas notas desajeitadas são outras tantas punhaladas no coração da gente.
E isso, ainda por cima, dava à gente a reputação de ser um velho maníaco intratável. Velho maníaco intratável!
Que poderiam esses parvos compreender no tocante a superioridade da visão alheia?
O segredo da minha harmonia? Só eu o conheço.
A ciência da minha arte. A arte da minha ciência. A harmonia das estrelas no céu, o anseio de fraternidade no coração do homem. Tal é o segredo da minha música.
Das profundidades do abismo chamei por Ti, Senhor. O derradeiro brado. Depois, o silêncio.
Simples como o canto dos pássaros ao sol que nasce ou que morre.
Agora, após um dia tranquilo, a tranquilidade da noite.
Isso foi tudo.
É possível que vários séculos se passem ainda antes que o mundo se advirta da existência dele.





 Eu, Álison