Quando o amor é dirigido a um único ser e atinge grau muito elevado de intensidade, se não puder ser satisfeito, todos os bens do mundo e a própria vida perdem o valor. É uma paixão de uma força inigualável, que não para diante de nenhum sacrifício, e se não conseguir se realizar, pode levar à loucura ou ao suicídio.
Só a espécie tem vida infinita e só ela é capaz de desejos, satisfações e dores infinitos. Mas estes estão encerrados no estreito peito de um mortal - portanto, não é de espantar que ele pareça despedaçar e não conseguir exprimir o pressentimento da delícia ou dor infinitas que o invade.
É justamente essa a fonte de toda poesia erótica de gênero elevado, que eleva-se em metáforas transcendentes que pairam muito acima das coisas terrenas.
Do mesmo modo, a perda da amada, para a morte ou um rival, é também sentida pelo amante enamorado como uma dor maior que todas as outras, precisamente porque é uma dor de natureza transcendente, visto que o atinge não apenas como indivíduo, mas em sua essentia aeterna, na vida da espécie, em cuja vontade e missão ele estava encarregado de realizar.
Essa missão que a vontade, zelando pelos interesses da espécie, impõe ao enamorado, apresenta-se à consciência deste sob a máscara de uma infinita bem aventurança, que seria alcançada na união com a mulher amada. Nos graus supremos da paixão, essa quimera é tão radiante que, se não puder ser realizada, a própria vida perde todo o encanto e torna-se tão isenta de alegria e insípida, que o desgosto causado por ela supera até mesmo o medo da morte; por isso, às vezes, um infeliz põe fim voluntariamente a seus dias.
O indivíduo é, aí, uma vaso por demais frágil para conter o desejo infinito da vontade da espécie concentrada em um objeto determinado. Não tem, então, outra saída senão o suicídio e, por vezes, até o duplo suicídio de ambos os amantes.
Eu, Álison
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