quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Trecho do filme "As Horas"

- Estava trabalhando no jardim. Eu não queria atrapalhá-lo.
- Você me atrapalha quando desaparece!
- Eu não desapareci. Saí para dar uma volta.
- Uma volta? É isso? Só uma volta? Virgínia, vamos voltar para casa.
- Não existe tal obrigação!
- Virgínia, você tem obrigação para com sua insanidade. 
- Eu tenho suportado essa prisão. Tenho suportado esse encarceramento. Sou atendida por médicos. Em todos os lugares sou atendida por médicos que me informam sobre meus próprios interesses.
- Eles sabem seus interesses.
- Eles não sabem! Eles não falam pelos meus interesses. 
- Virgínia, posso ver que deve ser difícil para uma mulher do seu...
- Do meu o quê?
- Do seu talento!... Ver que não pode ser responsável por si própria.
- Quem seria melhor!? 
- Você tem um histórico! Tem um histórico de internações. Nós a trouxemos aqui para salvá-la de um dano irreparável que pretendia fazer a si mesma. Você tentou se matar duas vezes!!! Vivo diariamente com essa ameaça. 
- Minha vida foi roubada de mim. Estou vivendo em uma cidade em que não quero viver. Tenho vivido uma vida que não desejo viver. 
- Não é você que está falando, Virgínia. É consequência de sua enfermidade.
- É minha voz.
- Não é sua voz.
- É minha voz, só minha!
- Não é, escute...
- Não, é minha voz! Estou morrendo nessa cidade! 
-Se estivesse pensando claramente, Virgínia...
- Se eu estivesse pensando claramente... Se eu estivesse pensando claramente, Leonard, lhe diria que luto sozinha, na escuridão, na profunda escuridão, e que somente eu posso saber se eu posse entender meu próprio estado. Você vive com essa ameaça, você diz. Vive com a ameaça da minha extinção. Leonard, eu também vivo com ela. Mesmo ao mais miserável, ao mais baixo paciente é permitida alguma escolha em sua prescrição médica. É o que define sua humanidade. Desejaria, para seu bem Leonard, que pudesse ser feliz nessa quietude... Mas se for uma escolha entre Richmond e a morte... Eu escolho a morte.
[...] Não se pode encontrar a paz evitando a vida, Leonard.







Eu, Álison

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