Mostrando postagens com marcador ópera. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ópera. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de julho de 2012

C. F. Gounod

Ele não era um mau menino, mas não cuidava das lições. Escrevinhava música em todos os cantos dos livros de latim. Cantarolava trechos de óperas quando o professor procurava explicar um problema de aritmética.
Havia o que quer que fosse de místico na atmosfera romana e isso tocou, dentro dele, uma corda sensível, pois havia também em sua alma profunda tendência para o misticismo.
Além do seu amor à música, adquirira Gounod outra paixão – a paixão da pintura.
“Ainda imaturo, mas possuído de entusiasmo romântico e apaixonado...”.
Desalentado pelo fracasso no teatro, escreveu duas sinfonias e tornou a mergulhar no misticismo.
Havia de ser um tema mundano que tivesse, ao mesmo tempo, fundo religioso – história de paixão e compaixão, poema épico de pecado, sofrimento e redenção, debuxo panorâmico da miséria da Terra, do castigo do Inferno, da glória do céu.
Duas das mais preciosas joias do fulgurante colar dessa música.
E cada manhã, ao despontar do sol, viam os camponeses o estranho misterioso a caminhar pela margem do rio, um homem de meia idade, a barba grisalha, trazendo, nos olhos, uma expressão distante. Voltava sempre dos passeios com ramos de flores nas mãos e grinaldas de música na cabeça.
Sempre que ele tocava para ela, rompia Georgina numa tempestade de lágrimas, chamando-lhe o seu mestre, a sua inspiração, o seu deus.
Esmagado por esse golpe, recolheu-se de novo o compositor ao seu misticismo. E, desta feita, permaneceu místico até o fim.
Antes de morrer, encetou novo trabalho religioso, um Réquiem. Nunca, porém o terminou. Uma tarde, no outono de 1893, ao sentar-se para trabalhar, caiu-lhe a cabeça sobre a mesa. “Psiu”, disse a esposa aos demais membros da família, “não o perturbemos. Ele está dormindo...”.
“A morte”, dissera ele, “é o princípio da vida”.




Eu, Álison

quinta-feira, 19 de julho de 2012

G. Verdi

Essa existência de trabalhos sem folguedos converteu-o num rapaz melancólico, se bem não o tornasse apagado. Desde a mais tenra infância nunca soube o que fosse estar livre de preocupações.
Nessa ocasião, entretanto, Verdi não estava disposto a pensar em música “engraçada”, pois as desventuras tinham principiado a acumular-se-lhe sobre a cabeça.
“Isto”, escreveu Verdi alguns anos depois, “foi apenas o principio das minhas aflições. Em abril (1840) o meu filhinho adoeceu; e antes que os médicos acertassem diagnosticar a enfermidade, morreu nos braços da mãe desconsolada. Como se isto não bastasse, minha filhinha adoeceu também alguns dias depois e, por seu turno, também morreu. E como se isto ainda não fosse suficiente, a minha pobre mulher foi tomada de violenta inflamação do cérebro e, no dia 3 de junho, um terceiro caixão deixou a minha casa... E no meio de todas essas angústias terríveis eu tinha de escrever uma ópera cômica!”.
Em virtude “do castigo dos deuses e da crueldade dos seus semelhantes”, Verdi viu-se tentado, durante algum tempo, a entregar-se ao desespero. “Eu estava só, completamente só!...”.
“Voa, esperança minha, sobre asas de outro”.
“Não creio que o senhor a tivesse escrito se houvesse seguido os ditames do coração. Mas o senhor vive entre pessoas que padecem do hábito de espreitar o que fazem os vizinhos e de condenar toda e qualquer ação que não se lhe ajuste aos padrões de proceder. Tenho por hábito não interferir na vida dos outros, mas espero que os outros não interfiram na minha...”.
Diferiam particularmente nos pontos de vista sobre religião. Giuseppina era católica devota, e Verdi, agnóstico. Ambos, porém, cressem ou não, possuíam a graça divida da tolerância.
Há algumas naturezas virtuosas para as quais a fé em Deus é necessária; outras, igualmente perfeitas, são mais felizes não acreditando em nada.
E Verdi, assim como Giuseppina, compreendiam que a união perfeita consistia na harmoniosa combinação dos dois caracteres opostos. Não, opostos não, suplementares.
“Verdi”, refere Giuseppina à amiga, “virou arquiteto...”.
Não era Verdi um sonhador cujo espírito vogasse acima das realidades da vida.
Verdi foi um desses raríssimos seres humanos – um gênio supremo que conseguiu, em vida, tornar-se um homem extraordinariamente rico.
Surgira-lhe na música uma nota nova – nota de piedade pelos sofrimentos dos seus semelhantes. Abrandara-se a rebelião em tristeza e a dor substituíra a esperança. A vida, quando muito, era patética – um ansiar pelas estrelas e um revolver-se no pó. Todo drama humano, seja qual for o seu curso, há de chegar a um fim trágico.
Aïda é a demonstração prática do credo de Verdi segundo o qual a música não deve apenas acompanhar a par e passo as palavras, senão, penetrando-as, atingir as sutilezas do pensamento que reside atrás delas. O espírito feito carne, a alma da música insuflada no corpo da poesia.
Nunca até então fora o gênio de Verdi desafiado por libretos de técnica tão magistral e tão viva inspiração. E ele se mostrou a altura do desafio. Mantivera-se sempre afastado dos outros – temeroso das suas crueldades e indiferente ao seu aplauso. O mundo deixava-o para trás e atirava-se para frente sem ele.
Assim se despediu Verdi do mundo. “Perdi muitas das pessoas que eu amava, e o pesar resistiu à resignação. Até agora, no entanto, nunca senti tamanho ódio à morte e tanto desprezo pela sua força misteriosa, cega, estúpida, triunfante e infame”.
Um amigo perguntou-lhe certa vez, qual dentre as suas obras julgava a melhor. E foi a seguinte a resposta de Verdi: “Minha melhor obra foi a dotação que fiz a uma casa para músicos pobres, em Milão”.




Eu, Álison